E ela se foi, como se nunca estivesse estado aqui. Deixou
uma pétala para trás. Eu fiquei estática. Ela indo e eu aqui parada. Eu olhando
sua imagem ficando cada vez mais distante e fiquei ali parada. Percebi que não fazia
nenhum movimento por mais mínimo que fosse. Apenas estava ali, existindo. Percebi
que eu não respirava. O ato de não respirar que me refiro não é uma metáfora.
Eu realmente não estava respirando. Sentia meu rosto pegando fogo. Mas estava
ali, ainda existia naquele lugar. Eu via um olhar ou outro de dó caindo sobre
mim, desconhecidos curiosos. Eu me mantinha ali, não enxergava nada. Sentia o
choro se aproximando e quis afastá-lo. Não fazia nada, não me mexia , não respirava,
prendia os dentes uns nos outros e ficava ali. Não conseguia sentir o vento ao
meu redor. Flor de lis, então chegou a sua hora, você se foi do mesmo jeito que
veio. E eu imaginei que sempre teria você ao meu lado. Esse pensamento do nosso
futuro estava sempre me sondando. De fato me imaginava com cinqüenta anos tendo
a minha Flor de Lis ao meu lado. Sentia-me enrubescida, de fato não respirava
mais. Abri minha boca, mas nada entrou nem saiu, nem um suspiro, nem um grito
de desespero, nem nada. Eu olhava ao redor procurando algo que me dissesse que
era uma piada, mas continuava a ver os olhares de dó. É incrível a natureza
humana. As pessoas não me conheciam, nunca haviam me visto, eu só estava ali
existindo, mas elas sentiam as minhas vibrações, sentiam a tristeza que saía
dos meus poros, quase imergindo de meus
olhos, assustados que estavam. Depois de alguns minutos, fechei os olhos e não pude
mais me conter, então a verdade veio à tona, flor de lis havia ido embora. Não havia
nada que eu podia fazer, não havia nada que eu pudesse dizer, não havia ninguém
a quem eu pudesse pedir ajuda quanto a isso. E eu fiquei ali, parada, apenas
existindo, mas desejando que a chuva mais grossa atingisse o meu corpo e me
mostrasse que eu, naquele momento, não era nada. Era apenas um pobre diabo, que
agora tinha motivo para voltar a ser um
ser da noite. Flor de lis foi embora. Eu secava as lagrimas, tentava fingir que
não eram minhas, mas os olhares não negavam, eu estava chorando. As lagrimas
mais quentes de todas as outras que eu já havia derramado estavam lavando meu
rosto de fora a fora. Flor de lis, porque? Flor de lis, não faça isso. Já era
tarde demais. Lembrei dos dias, das noites que fiquei deitada com minha bela Flor de Lis. Nos envolvíamos em longos abraços que se não houvesse amanha. E de
fato, para mim e para a Flor de Lis nunca houve amanha, havia a penas o momento
em que estávamos juntas. Tão eternos e intensos eram nossos momentos. Imagino
se minha Flor de Lis um dia saberá que escrevi esse texto. Será que Flor de Lis
sabe que estou chorando agora, enquanto escrevo? Será que Flor de Lis estará
lendo isso e chorando também, sozinha, sem ninguém para consolá-la? Eu acho que sempre amarei a minha
doce Flor de Lis, que agora foi embora e me deixou aqui. As vezes planto uma ou
outra flor qualquer em meu jardim, mas nada é igual a minha delicada Flor de Lis, que já não está mais aqui. Eu chorei um rio quando descobri que não tinha
mais minha bela Flor de Lis, na primeira chuva que teve, deixei-me ser atingida
pelas gotas, todas tão frias e pesadas. E a cada uma que atingia meu corpo, eu
lembrava que minha Flor de Lis não estava mais comigo e que de fato não importava
mais. Esse foi o fim do romance de Olhos Chorosos e Flor de Lis.
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