quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O triste fim de Olhos Chorosos e Flor de Lis


E ela se foi, como se nunca estivesse estado aqui. Deixou uma pétala para trás. Eu fiquei estática. Ela indo e eu aqui parada. Eu olhando sua imagem ficando cada vez mais distante e fiquei ali parada. Percebi que não fazia nenhum movimento por mais mínimo que fosse. Apenas estava ali, existindo. Percebi que eu não respirava. O ato de não respirar que me refiro não é uma metáfora. Eu realmente não estava respirando. Sentia meu rosto pegando fogo. Mas estava ali, ainda existia naquele lugar. Eu via um olhar ou outro de dó caindo sobre mim, desconhecidos curiosos. Eu me mantinha ali, não enxergava nada. Sentia o choro se aproximando e quis afastá-lo. Não fazia nada, não me mexia , não respirava, prendia os dentes uns nos outros e ficava ali. Não conseguia sentir o vento ao meu redor. Flor de lis, então chegou a sua hora, você se foi do mesmo jeito que veio. E eu imaginei que sempre teria você ao meu lado. Esse pensamento do nosso futuro estava sempre me sondando. De fato me imaginava com cinqüenta anos tendo a minha Flor de Lis ao meu lado. Sentia-me enrubescida, de fato não respirava mais. Abri minha boca, mas nada entrou nem saiu, nem um suspiro, nem um grito de desespero, nem nada. Eu olhava ao redor procurando algo que me dissesse que era uma piada, mas continuava a ver os olhares de dó. É incrível a natureza humana. As pessoas não me conheciam, nunca haviam me visto, eu só estava ali existindo, mas elas sentiam as minhas vibrações, sentiam a tristeza que saía dos meus  poros, quase imergindo de meus olhos, assustados que estavam. Depois de alguns minutos, fechei os olhos e não pude mais me conter, então a verdade veio à tona, flor de lis havia ido embora. Não havia nada que eu podia fazer, não havia nada que eu pudesse dizer, não havia ninguém a quem eu pudesse pedir ajuda quanto a isso. E eu fiquei ali, parada, apenas existindo, mas desejando que a chuva mais grossa atingisse o meu corpo e me mostrasse que eu, naquele momento, não era nada. Era apenas um pobre diabo, que agora tinha motivo para voltar a ser  um ser da noite. Flor de lis foi embora. Eu secava as lagrimas, tentava fingir que não eram minhas, mas os olhares não negavam, eu estava chorando. As lagrimas mais quentes de todas as outras que eu já havia derramado estavam lavando meu rosto de fora a fora. Flor de lis, porque? Flor de lis, não faça isso. Já era tarde demais. Lembrei dos dias, das noites que fiquei deitada com minha bela Flor de Lis. Nos envolvíamos em longos abraços que se não houvesse amanha. E de fato, para mim e para a Flor de Lis nunca houve amanha, havia a penas o momento em que estávamos juntas. Tão eternos e intensos eram nossos momentos. Imagino se minha Flor de Lis um dia saberá que escrevi esse texto. Será que Flor de Lis sabe que estou chorando agora, enquanto escrevo? Será que Flor de Lis estará lendo isso e chorando também, sozinha, sem ninguém para  consolá-la? Eu acho que sempre amarei a minha doce Flor de Lis, que agora foi embora e me deixou aqui. As vezes planto uma ou outra flor qualquer em meu jardim, mas nada é igual a minha delicada Flor de Lis, que já não está mais aqui. Eu chorei um rio quando descobri que não tinha mais minha bela Flor de Lis, na primeira chuva que teve, deixei-me ser atingida pelas gotas, todas tão frias e pesadas. E a cada uma que atingia meu corpo, eu lembrava que minha Flor de Lis não estava mais comigo e que de fato não importava mais. Esse foi o fim do romance de Olhos Chorosos e Flor de Lis.


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