domingo, 10 de fevereiro de 2013

Fim do Baile de Mascaras

Eu caminhei. Eu estava ali fazendo meus passos virarem lenda na noite escura a dentro. Nada ao redor. Nenhum caminho para voltar, nenhuma mão amiga ou sorriso. Apenas o perigo ali, existente na solidao daquela noite, que começou alegre, feliz e terminou comigo ali. Na calçada. No chao de asfalto a inxar meus olhos. Eu queria um abraço. Estar ali, naquela calçada como um nada, como um pedaço de carne desfalecido, me fez lembrar de um tempo muito ruim. O tempo em que eunao tinha ninguem. O tempo em que a rua silenciosa e misteriosa era minha unica amiga. Amiga das mais traiçoeiras. Minhas maos ficavam suadas e esfregavam o chao duro e frio de pedra para se esquentar, os olhos nao relaxavam pradescansar, ficavam ali, abertos, estaticos, arregalados, desesperados, medo de qualquer sombra, qualquer ruido, qualquer estranho que passasse a minha volta. O tempo em que eu tremia ao pensar em voltar pra casa. O tempo em que os olhos de algumas pessoas pesavam sobre mim. Essa noite me fez recordar uma época muito ruim e que eu parecia estar vivendo de novo. Dessa vez nao era medo de voltar pra casa, dessa vez nao tinha como, eu estava ali, era prisioneira daquela noite. Horas a fio que eu passaria ali. Estranhos que paravam, olhavam e podiam me causar todo tipo de mal, mas eu tinha algo ali comigo, eu tinha o vento que soprava e me dizia que eu ainda estava viva e que apesar do medo e do rancor eu estava ali, o vento batia em meu rosto e me lembrava que eu estava respirando, fundo e ofegantemente, mas estava ali, respirando ainda. E no meio do meu pensamento de me alojar ali, naquela rua, naquela rua que eu ja havia sido feliz tantas vezes, o vento soprou mais forte, como quem me empurrava para o outro lado. Eu entendi como um convite, meu coração nao me permitiria cair na fraqueza, jamais ele deixaria isso acontecer. Me levantei tremendo e com os ohlos que antes eram atentos, agora molhados de lagrimas quentes de ódio, lagrimas de quem ve os rostos de todas as pessoas que nao puderam estender a mao, lagrimas porque nao havia ninguem ali que pudesse me ajudar. Eu olhei ao redor, vi a rua amarela iluminada pelas lampadas da madrugada e nao vi ninguem, nao ouvi nada, só ouvia meu coração batendo acelerado, apertado por nao saber o que eu iria encontrar na proxima esquina. Eu fechei a mao, que tremia, pude sentir as unhas invadindo a carne, cortando lentamente, mas nao pude parar, continuava ali, forçando, até que quando nao aguentei mais eu disse, como num sussurro: ''Eles nao vao me vencer. Eles nao vao fazer com que eu perca a cabeça. Eles nao vao conseguir.'' Eu repetia cada vez mais baixo, como quem conta um segredo precioso : ''Nao vao conseguir, nao vao me vencer, nao vao conseguir, nao vao me vencer''. Até que a coragem de sair dali veio como uma força que irradiava uma aura purpura em volta do meu corpo e eu gritei ''EU NAO VOU DEIXAR!''.