domingo, 23 de dezembro de 2012

Uma despedida a Flor de Liz

Hoje é um dia diferente para Olhos Chorosos. É o dia de enxugar as lagrimas, simplesmente porque elas secaram e ja nao faz mais sentido. O tempo se passou e coisas aconteceram. A cada falta cometida por Flor de Liz, Olhos Chorosos ficava cada vez mais desolada, cada vez mais sozinha, e essa solidão chegou como quem nao queria nada e foi mudando algo, bem lá onde ficava protegido o amor que sentia por sua terna Flor de Liz, que ja nao estava mais ao seu lado como antes, que ja nao queria compartilhar o travesseiro como antes, que nao a queria mais deitada em seu peito planejando seus futuros como antes, que nao tocava seus labios com ternura como antes. Ja nao eram mais Flor de Liz e Olhos Chorosos. A cada olhar nao trocado e beijo nao dado uma coisinha ia mudando dentro do peito da pobre Olhos Chorosos. Essa provavelmente será uma das muitas palavras das quais Flor de Liz, esnobe que está, nem sequer irá ler. Da ultima vez, foi lhe entregue em maos, uma carta escrita a mao, com a letra tremida, com a tinta borrada das lagrimas que caiam no papel, nem sequer leu nenhum dos sentimentos ali expostos, seus olhos nao queriam saber de percorrer o papel amassado que tantas vezes foi dito por Olhos Chorosos que seria jogado fora, que nao poderia existir nenhum relato daquele porte. Era uma carta muito forte afinal, tocava até que nao conhecia o antigo casal. Alguns trechos sempre a faziam chorar, mas ela continuava lendo, tentava se conformar, tentava negar, se machucava de proposito, se jogava num mar de lembranças do que ja era um passado um tanto quanto distante só pra mostrar para ela mesma o quanto nao era boa o suficiente, o quanto era um peso morto, o quanto nao era mais amada por quem tanto queria ter ao lado. Mas a cada vez que isso acontecia, algo mudava. Algo se tornava mais fraco. Algo ia deixando de existir como se nunca tivesse estado presente, algo ficava no tempo e no espaço como se fosse um fruto da imaginaçao. Nao se deixa de amar uma pessoa do dia para a noite, isso é uma coisa que é provocada, uma coisa que vai acontecendo aos poucos, vai se acabando, se exvaindo, sendo extraido do peito com força, como se fosse um mostro, um sanguessuga do qual temos quenos livrar. Nessa hora, Olhos Chorosos chegou a conclusao de que existem pessoas que sao uma especie de vampiros da vida real, estao ali só para sugar, se alimentar da vitalidade que a pessoa esbanja, ficar forte roubando algo que os outros tem de especial. Tendo esse raciocinio em mente, chegou a hora de Olhos Chorosos dar um basta, tirou todas as forças de suas viceras, lutou contra, até que houve o momento em que olhou para Flor de Liz, que estava ali, sorrindo, conversando com pessoas proximas, olhou bem no fundo daqueles olhos castanhos, cobertos por mechas  jogadas e umidas de seu cabelo liso e bagunçado e nao conseguiu sentir nada, nao se comoveu, nao sentiu o peito apertado, nao sentiu o aroma puro do amor, nao sentiu a brisa dos apaixonados, apenas viu aquela pessoa ali, sendo uma pessoa comum. Uma pessoa por quem Olhos Chorosos ja havia se apaixonado antes e nao mais.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Olhos chorosos, Fada Mari e Flor de Lis

Olhos chorosos estava ali, apenas s er uma estranha tentando se enturmar, se sentia desnorteada, olhava para a propria mao e nao via Flor de Lis ali entrelaçada. Quis morrer por um segundo. Lembrou de todos os momentos, como se fosse um trailler dentro de sua mente doentia. Lembrou de uma vez em que Flor de Lis se contorcia de tesão entre suas pernas, do formigamento mutuo, dos corpos suados, mas logo afastou os pensamentos carnais e lembrou de quando Flor de Lis teve medo na sala escura de cinema. Olhos chorosos sussurrou em seu ouvido: ''Meu querido, se sentir medo pode me abraçar, estarei sempre aqui pra voce''. Ou quando Flor de Lis estava no chão, sem ninguem ao redor, Olhos chorosos caminhou em sua direçao, deu um colo pra se deitar e afagou seus cabelos com ternura. Enfim, nao fazia mais sentido, Flor de Lis havia ido embora. Até que houve o momento em que Olhos chorosos viu Flor de Lis, bem ali, ao alcance da mao, o vento que bateu nela chegou a Olhos chorosos como uma doce brisa que até a fez sorrirat´r que a realidade chegou a seus ouvidos. Flor de Lis disse a alguem: ''fui deixada, estou sozinha'', como quem se insinua para um novo amante. Olhos chorosos nao estava mais ali, sentia que seu corpo fragil foi mergulhado na agua mais gelada, do oceano mais profundo. O oceano da perda. Sentiu que seu coraçao foi arrancado de seu peito. Nao havia mais vida ali, Flor de Lis desejava outro dono, Flor de Lis, aquela Flor de Lis, a sua Flor de Lis. Olhou para o lado, ameaçou cair, pernas bambearam, mas se manteve ali, estacada naquele chao de desgraça. Até que viu, sua antiga companheira, que serviu muito bem como consolo, Fada Mari havia voltado. Antes a ilusao do que a realidade. A casa trago uma pancada mais forte. Cada vez mais tragos, mais pancadas, mais dores, até que na ausencia da consciencia, nasceu um sorriso. Bem vinda de volta Fada Mari.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O triste fim de Olhos Chorosos e Flor de Lis


E ela se foi, como se nunca estivesse estado aqui. Deixou uma pétala para trás. Eu fiquei estática. Ela indo e eu aqui parada. Eu olhando sua imagem ficando cada vez mais distante e fiquei ali parada. Percebi que não fazia nenhum movimento por mais mínimo que fosse. Apenas estava ali, existindo. Percebi que eu não respirava. O ato de não respirar que me refiro não é uma metáfora. Eu realmente não estava respirando. Sentia meu rosto pegando fogo. Mas estava ali, ainda existia naquele lugar. Eu via um olhar ou outro de dó caindo sobre mim, desconhecidos curiosos. Eu me mantinha ali, não enxergava nada. Sentia o choro se aproximando e quis afastá-lo. Não fazia nada, não me mexia , não respirava, prendia os dentes uns nos outros e ficava ali. Não conseguia sentir o vento ao meu redor. Flor de lis, então chegou a sua hora, você se foi do mesmo jeito que veio. E eu imaginei que sempre teria você ao meu lado. Esse pensamento do nosso futuro estava sempre me sondando. De fato me imaginava com cinqüenta anos tendo a minha Flor de Lis ao meu lado. Sentia-me enrubescida, de fato não respirava mais. Abri minha boca, mas nada entrou nem saiu, nem um suspiro, nem um grito de desespero, nem nada. Eu olhava ao redor procurando algo que me dissesse que era uma piada, mas continuava a ver os olhares de dó. É incrível a natureza humana. As pessoas não me conheciam, nunca haviam me visto, eu só estava ali existindo, mas elas sentiam as minhas vibrações, sentiam a tristeza que saía dos meus  poros, quase imergindo de meus olhos, assustados que estavam. Depois de alguns minutos, fechei os olhos e não pude mais me conter, então a verdade veio à tona, flor de lis havia ido embora. Não havia nada que eu podia fazer, não havia nada que eu pudesse dizer, não havia ninguém a quem eu pudesse pedir ajuda quanto a isso. E eu fiquei ali, parada, apenas existindo, mas desejando que a chuva mais grossa atingisse o meu corpo e me mostrasse que eu, naquele momento, não era nada. Era apenas um pobre diabo, que agora tinha motivo para voltar a ser  um ser da noite. Flor de lis foi embora. Eu secava as lagrimas, tentava fingir que não eram minhas, mas os olhares não negavam, eu estava chorando. As lagrimas mais quentes de todas as outras que eu já havia derramado estavam lavando meu rosto de fora a fora. Flor de lis, porque? Flor de lis, não faça isso. Já era tarde demais. Lembrei dos dias, das noites que fiquei deitada com minha bela Flor de Lis. Nos envolvíamos em longos abraços que se não houvesse amanha. E de fato, para mim e para a Flor de Lis nunca houve amanha, havia a penas o momento em que estávamos juntas. Tão eternos e intensos eram nossos momentos. Imagino se minha Flor de Lis um dia saberá que escrevi esse texto. Será que Flor de Lis sabe que estou chorando agora, enquanto escrevo? Será que Flor de Lis estará lendo isso e chorando também, sozinha, sem ninguém para  consolá-la? Eu acho que sempre amarei a minha doce Flor de Lis, que agora foi embora e me deixou aqui. As vezes planto uma ou outra flor qualquer em meu jardim, mas nada é igual a minha delicada Flor de Lis, que já não está mais aqui. Eu chorei um rio quando descobri que não tinha mais minha bela Flor de Lis, na primeira chuva que teve, deixei-me ser atingida pelas gotas, todas tão frias e pesadas. E a cada uma que atingia meu corpo, eu lembrava que minha Flor de Lis não estava mais comigo e que de fato não importava mais. Esse foi o fim do romance de Olhos Chorosos e Flor de Lis.


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Fada Mari


Nos meus melhores dias, meu pensamento estava envolto pela Fada Mari. Ela invadia meu pensamento, me dominava e eu a adorava. A idéia da presença dela encantava os meu olhos, que ficam vermelhos de emoção assim que ela chegava.
Até que aconteceu. A fada tentou me destruir pela primeira vez. Primeira e ultima. Jamais chegarei perto dela novamente, nunca mais. Peguei aversão dela, nojo, asco, repugnancia. Nao me entra na mente o perdão. Nao ficarei de boa com ela. Nossa relação nunca mais será a mesma.
Fada Mari, porque vc fez isso? Fada Mari, voce armou pra mim. Fada Mari, voce quase me meteu numa fria. Fada Mari, nao precisa mais voltar.
Eu estava lá, e mesmo assim eu nao me lembro muito bem. Eu sei que o sonho se transformou num horror. O sentimento de horror invadiu a tudo, o cenario ficou um lixo. Eu ainda me pergunto, Fada Mari, por quê? Por que voce quis tirar ele de mim, Fada Mari?
De um minuto para o outro eu senti que uma parte de mim havia ido embora. Parece besteira mas a muito tempo eu nao sentia medo. É dificil eu sentir medo. Mas nessa madrugada eu senti. A Fada Mari havia me traído. Na escuridão da noite ao perceber que tudo podia ter acabado, eu caí. Quando percebi que estava no chão, na rua vazia, e que os rostos estavam distantes eu sussurrei: Sopre, sopre e acabe com isso. Fechei meus olhos e fiquei ali. Nao pensava em nada, só queria estar ali, deitada, isolada, inexistente. Até que mãos vieram pra me acudir, ao abrir os olhos vi que quem eu queria que viesse me salvar nao estava ao redor. Pensei em expulsar a todos, falar pra me deixarem, mas aí é que eu me dei conta: a Fada Mari não podia vencer. Eu levantei, tremula e chorosa, e declarei guerra. Jamais iria voltar pra casa sem recuperar o que eu havia deixado naquele trago.
Quando amanheceu e o sol apareceu, a guerra havia acabado, eu havia vencido e não pude deixar de gritar: Morra! Jamais chegue perto de mim sua maldita! Vá embora Marijuana!

sábado, 21 de julho de 2012

Uma noite na Floresta das Ilusões


A Lua estava calma, plena e pálida, sim pálida, era esse o adjetivo na ponta da língua do Lobo.  Lobo esse que acabava de voltar de uma grande viagem.  Frio, molhado e triste a caminhar pela Floresta das Ilusões no meio daquela noite decepcionante. Estava de cabeça baixa, lagrimas caíam de seus olhos, profunda que era a tristeza que sentia, uma nuvem densa, uma tremenda tempestade chovia em seu coração e isso chamou a atençao da Lua, que tambem estava solitária, num céu sem estrelas, ja não chovia no coração dela, pelo contrario, um grande vazio crescia e se apossava daquela alma que já nao tinha forças para lutar.
Ambos eram armas carregadas, prontas a explodir a qualquer momento, por menos letal que fosse. Ossos e sangue mostravam o caminho, o precipício estava logo ali a frente. O animal parou por um momento, nao olhava para nada ao redor, só seguia, quieto, com pulsações leves, quase que inexistentes. Chegando ao final daquela via, ele se deitou, e ficou a observar a simples Lua, tão melancolica que era, mas ele apenas a olhou, nao resparou o que era ou o que deixava de ser. Apenas passou os olhos, como quem observa um estranho qualquer. As obsessões de ambos eram fatais como veneno desde o começo, mas não eram fortes o bastante para admitir.
Ela estava plena, e enxergou atraves da alma daquele Lobo solitário que estava diante dela, ficou a sentir o momento com os olhos fechados, conseguiu como num passe de magica enxergar atravez da pele que o cobria, sentiu as dores da alma daquele que não tinha alcateia. Rezou, enquanto ele tentava sem sucesso se despedir do Sol que tanto o havia decepcionado, pedia a Circe com todas as suas forças que não deixasse se esvair mais uma alma de criaturas da noite, afinal, já eram tao poucas e já nao se ouvia falar mais delas como antigamente.
Sempre as criaturas da noite eram assim: apareciam, passavam a noite naquele mesmo lugar onde estava o Lobo neste momento, porém desapareciam com a chegada do Sol. A Lua nunca sabia se eles tiravam a própria vida ou se voltavam para o Sol, só que nunca mais apareciam por aquela Floresta das Ilusões. Mas dessa vez parecia ser diferente, ele parecia saber que seres da noite não podem mudar o que são, apenas são e pronto. Não havia como sair da maldiçao que os envolvia desde de o início de suas vidas. Só restava para a Lua esperar que ele fosse embora, como todos os outros atras de seu precioso Sol, e só restava ao Lobo entender que o Sol nasce pra todos, porém são poucos que podem  entender o quão significativo é a Lua para os que habitam a Floresta das Ilusões.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

O Conto da Princesa e do Pintor


Eu ainda me lembro como se fosse hoje! Era um sabado, eu ia viajar mas nao havia dado certo, de ultima hora me juntei com uma conhecida de alguns anos e fomos. Apenas fomos. Ainda me lembro de nossos rostos com aquela expressão de quem não sabe o que vai acontecer, mas, não importava o que parecia, estavamos indo, e era isso que contava. Chegando lá, descobrimos um mercado, compramos uma bebida destilada das mais vagabundas, porem mais doces e que mais se mantém no meu conceito.
Meia garrafa virada e eu ja estava próxima de um mundo mais bonito, e pelo visto ele era mais claro, tão claro que iluminou a placa no meio de uma risada: ''Rua Augusta''. E como se não bastasse, seguimos uma desconhecida, numa versão totalmente infantil da Katy Perry, mas lógico que era ela, os olhos não me enganaram, olhos jamais enganam. A seguimos e logo ela desapareceu da nossa vista, eu me mantinha com a garrafa na mão, afinal, era minha acompanhante naquela noite, até que eu a jogasse fora, como fazia com todas as minhas outras amantes.
No vazio de pessoas entrando na boate, encontramos varias pessoas, todas desconhecidas e quando iluminadas pela minha garrafa, se mostravam um tanto quanto interessadas em mim e em minha conhecida, imaginem só! Poucas palavras, muitos goles, altas risadas, um beijo aconteceu, juntamente com mãos das mais atrevidas e para a minha surpresa, quando abri meus olhos, era um homem. Um homem que ficou com metade do meu batom vermelho em seu pescoço.
A garrafa acabou, e eu, imaginem, estava lá. No banheiro daquele bar, de joelhos, com os seios a mostra, meus lábios de princesa envolviam seu sexo com precisão. Mas quem liga, eu só queria me desvirtuar de todos os valores que a sociedade prega como certo ou errado. Os prazeres da carne são muito julgados hoje em dia. Mas eu me mantenho em cima do muro, por assim dizer, tempo de julgar, tempo de aproveitar.
Uma semana passa e eu me mantenho, o mesmo sabado, a mesma rua, e o mesmo banheiro. Sem perceber eu ia me envolvendo, me fazendo pertencer sem nada em troca. Por mais que vez ou outra eu percebesse algo errado nos olhos dele, eu me mantinha firme achando que era a bebida me enlouquecendo. Mas isso se repetia toda vez. Até que um dia ele simplesmente desapareceu. Se nao fossem as fotos que tiramos num dia de muita alegria eu iria ter emmente que ele nunca esteve ali ao meu lado, seria como um sonho bom, do qual acordamos e percebemos que apenas passou. Mas elas estavam ali, eu as via, todos as viam. Nao tinha como negar. Simplesmente havia ido embora.
Durante dez dias, eu fiquei na completa solidao emocional, um ato carnal de vez em outra para tentar acalmar a alma. Brincadeira perigosa de tentar encontrar em outros braços, a sua proteçao, em outras bocas o seu gosto e em outros olhos as suas mentiras. Sempre mentindo, eu sabía desde o começo, mas estava ali, firme e forte, para o que estivesse por vir.
Quando esse periodo passou, ele voltou, me trazendo a alegria, a insegurança e a consciencia de que eu ja era sua, por mais que fosse embora novamente eu ainda estaria ali, de braços abertos, esperando os labios tocarem os meus. Mais mentiras, mais bebidas, cada vez tentando ir mais longe, avançando todos os sinais, passando todos os limites, que eu princesa ingenua impunha sem nenhum sucesso, muito boba por perceber o que estava acontecendo, mas fechei os olhos pois nao queria acreditar que as pessoas tinham essa chamada 'falta de humanidade'.
Falta de humanidade é o termo mais correto quando vamos falar do que estava acontecendo naquele momento. Afinal a situação era: eu aestava apaixonada, ele não. Ele saboa que eu estava, eu sabia que ele não estava. Eu respeitava o fato de ele nao ter nenhum sentimento por mim, tanto que nunca forcei nenhum relacionamento com ele. Ele não tinha o menor respeito por mim, nem pelo meu sentimento, ele sumia, ele fazia o que bem entendia, inventava dezenas de historias, fazia eu ter esperanças com frases cada vez mais cliches.
Até o dia que eu decidi nao me importar mais. Inventaria uma mentira, até grotesca, das mais mal feitas e sairia sem ele. Mas nem tudo é facil assim. Dias depois acabou descobrindo minha mentira boba. Porque afinal, eu, prinecsa, sem maldade, deixei uma pista. Que coisa mais ridicula, uma pista em local que ele tinha caesso. Mas no momento em que fui descoberta nao lutei contra. Sentia tristeza pois sabia que nao seria perdoada, mas la no fundo um alivio crescia dentro de mim, estaria livre de suas garras e permaneceria com a pureza que nao havia o deixado tirar de mim.
Mas nessa hora o inesperado aconteceu, ele me desculpou, ou queria muito me desculpar, tanto queria que estava até disposto a conversar sobre nós. Nao vou negar que nessa hora eu acreditei, na minha cabeça era medo que ele tinha de perder sua princesa, que estava sempre ali.
Quando estava a caminho do encontro daquele homem eu tremi. Tentei imaginar o que eu iria falar e por mais besta que fosse, eu estava quebrando a cabeça para saber como iria cumprimenta-lo. Pois é, eu fiquei pensando nisso. Selaria nossos labios? Só acenaria?
Ao chegar, acabei nao fazendo nada. Apenas fui ao encontro dele e fiquei ali, parada, de olhos fixos naquele a quem tanto eu desejava só para mim. Nos resolvemos com uma facilidade um tanto quanto estranha, eu ainda podia ver o veneno evaporando de seus olhose chegando até mim. Até que sua boca traduziu o que seus olhos nao conseguiam transmitir. Ele queria mais, queria a minha pureza, a minha honra. Na hora, se veio para mim como uma revelaçao. Ele estava zangado por eu ter afetado sua masculinidadeao ter mentido e me colocado de igual para igual. Sendo assim ele iria roubar a unica coisa que eu havia lhe negado por tantas e tantas vezes e nunca mais estaria em minha vida. A desconfiança rondava o meu pensamento, estava óbvio para mim o que iria acontecer. Mas e se eu dissesse nao? Esperaria outra arapuca para ele ir embora de vez? Einha que tirar minhas conclusoes e ir adiante. Resolvi entrar no jogo e ver quando a mascara iria cair.
O cenário agora era outro, um quaerto, uma cama, meia luz, mobilia sem nenhum toque pessoal, totalmente apatica e neutra. Ei olhei fundo nos olhos dele, como se procurasse uma luz, mas essa luz eu nunca consegui encontrar naqueles olhos.
Me beijou e me guiou, quando chegou o momento, me abriu como uma flor sensivel. Cada vez que seu sexo adentrava o meu, me enchia de dor e esperança, eu suava frio, cena digna de uma virgem, cujos olhos se confundiam em meretriz e santa.
Nos pés da cama redonda eu fumava e ficava envolta da fumaça, branca e calma, ele levantou me fitou de longe e disse 'Se eu fosse um pintor, vc seria a minha obra prima, com esse cigarro na mão voce fica perfeita!'. Eu sorri triste por saber que era a ultima vez e me vesti, nua que estava, com a fumaça que reinava, apenas a velar o que ja era passado na vida de ambos.

domingo, 27 de maio de 2012

Geração de Relacionamento Sério

Nao vou negar, longe disso. Eu prefiria ter sido largada. Pois aí vc teria ido embora, eu teria ficado, só como a lua na madrugada, com as nuvens de lembrança. Mas nao. Nao foi tao facil dessa vez. Pq seria? Nunca é, nunca foi. Ainda mais na minha mente que tem o dom ridiculo de imaginar e presumir as coisas. Imagino por exemplo o que vc deve ter feito ontem a noite. Com quem vc devia estar, o que vc fumou, qual destilado vc tomou, quem vc fodeu. A parte do foder eu presumo e me torturo. Afinal, nao seria eu eu se nao estivesse me torturando o tempo todo. Com todas essas cruzes enfileiradas e alinhadas prontas para serem carregadas por mim. Me vem agora, enquanto escrevo, a frase 'cada um tem o que merece'. Seria verdade? Seria uma frase que possa ser usada em todos os sentidos? Acho que nao, mas mesmo que fosse, isso geraria um mundo onde pessoas cada vez mais fossem movidas pela vingança...Mas afinal, esse é o mundo em que vivemos. Outro dom que eu tenho é de sentir as coisas, mesmo que elas aconteçam a quilometros de distancia. Mesmo que nao tenham nada a ver comigo. Eu posso estar aqui sentada fingindo que nada aconteceu mas eu sei, a atmosfera do ar pesa e a certeza me consome. Meu coraçao aperta. Mas o assunto hoje nao é bem esse. Se bem que eles andam lado a lado. Mas, de qqr forma, eu prefiria ter sido largada. Teria que conviver com a solidao mas isso é costume acumulado de ano em ano, digamos que teno pratica, sei lidar, ao meu modo, com a rejeiçao. Mas hoje me deparo com outra situaçao. Hoje eu tenho que deixar alguem. Alguem esse que, ao seu modo esquisito, ainda me quer. E que eu ainda quero. Por que mentir? Nao ganharia nada com isso, eu quero sim. Eu quero. Mas nao desse jeito mais, e nao da pra mudar as coisas que eu penso, que fulano deve pensar, a vida é assim, as pessoas pensam diferente. Cada uma tem a sua vida. Os relacionamentos de hoje parecem ser assim, nao existe mais o 'nós', existe eu e existe voce, e em uma certa fase estamos juntos. Nao estou reclamando desse padrao. Nao gosto nem desgosto, só acho que é assim por uma razao especifica, do mesmo modo que a nao sei quantos anos atrás as mulheres eram submissas levavam 156465464 chifres e aceitavam para manter as aparencias, para segurar homem. Hoje em dia é dificil ver as pessoas abaixando a cabeça umas para as outras. Nao sei se isso estraga ou fortalece. Mas hoje, complicou minha vida. Eu ouço uma musica, duas, falo com um, com outro, bato uma, duas, tres, quatro, vinte, mas o pensamento continua sendo o mesmo. Passo a noite revirando nas cobertas e analisando cada detalhe. Cada bostinha que aconteceu. Nao chego a nenhum conclusao, grande novidade. Algumas pessoas nao foram feitas pra ter, o chamado pela nossa geraçao de, relacionamento serio.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Evitando a fadiga

Agora me passam muitas coisas na cabeça, desde coisas boas, até coisas ruins. Tenho que moderar meus pensamentos porque ainda nao tenho certeza sobre o que é verdade e o que é mentira. Há lados em você que eu nao conheço e, sinceramente, tenho medo de conhecer. Meu pensamento continua vagueando, procurando algum sinal que indicasse o que está acontecendo de fato, mas é dificil constatar esse tipo de coisa se quando te vejo nunca estou sóbria. Por mais que olhasse no fundo dos seus olhos eu nao enxergaria nem o lobo, nem o cordeiro, por mais que ele estivesse plantando bananeira na minha frente. Eu me desculpei por duvidar do seu carater a unica vez que o fiz na sua frente, mas nao é legal duvidar o tempo todo quando voce nao está aqui. A culpa nao é sua, nem minha. A culpa é de todos esses ferimentos que estavam marcados pra me ferir a tempos, num jogo em que está programado para que eu perca toda vez. E quantas vezes isso ja aconteceu! Se pelo menos voce tivesse suprido minha carencia fisica talvez isso nao aconteceria, talvez nao estaria assim, talvez melhor, talvez pior, mais fodida, tanto faz, nao adianta imaginar mais desgraças, se bem que ja devo esperar por elas, elas sempre vem. Dessa vez nao farei um nada. Um nada. Tudo o que eu ja fiz das outras vezes, me matando de ligar, de escrever, de dar atençao para que tudo sempre fosse bonito, sempre dasse certo, mas de que adianta me esbudegar de coisas tentando que tudo siga uma trilha para a felicidade se eu puxo sozinha desse lado? Do outro lado nao há ninguem. Me sinto uma criança sozinha em um playground, tentando brincar na gangorra, cada força que eu faço para ter o impulso necessario para conseguir chegar o topo me gera uma descida forte e rapida. Nunca leve como uma pluma. Entao dessa vez esperarei sentada. Nao mexerei um dedo. Pode ser que antes que eu acabe esse texto o telefone toque, e tenha sido palavras escritas em vao. Mas pode ser que nunca toque. Quantas vezes eu esperei e o telefone nao tocou, até hoje. Dessa vez nao darei uma foda pra ir atras, cansei dessa palhaçada. Indo atras ou nao eu vou me machucar, fato. Entao prefiro me machucar evitando a fadiga.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Cabelo

Fomos para a casa. Todos nós receosos, sem muitas palavras, querendo saber no que tudo aquilo ia dar. De repente ela chega. Eu meio embriagada, meio sóbria vou ao seu encontro e esqueço de olhar outras pessoas transando a nossa volta. De repente uma musica conhecida em um volume elevado, vamos esquecer da vida. Ela se deita ao meu lado e fica envolta por minhas pernas, Nos beijamos, nos apalpamos e de repente algo me perturba. Ela impede meus dedos de irem de encontro ao seu sexo. Fico frustrada, bebo mais pra não lembrar, o que foi em vão. A campainha toca, um avulso que estava atrapalhando vai atender e ela inverte o jogo. Seu corpo pesa sobre o meu, e seus dedos descem suavemente meu corpo. Ela transa comigo e a unica coisa que me hipnotiza sao seus cabelos. A ponta dos seus cabelos tocam, leve com uma pluma, meu rosto, eu olho pra eles e eles irradiam algo. Nao digo nada, apenos curto o momneto na brisa suave de ver os cabelos dela jogados pelo meu rosto. O cheiro de sexo invade o quarto, nao estamos a sós. Antes que eu gozasse, fomos interrompidas, e o torpor de ver seus cabelos jogados por cima do meu rosto acabaram e o silencio reinou. Palavras e cigarros no silencio do quintal. Vamos pra algum lugar...

sábado, 21 de abril de 2012

Carta para Angela


E de repente vc se da conta do q estava bem na sua frente e vc deixou escapar, eu queria dizer 'Angela, eu ainda estou aqui, apensar de tudo que aconteceu e por algum motivo ate entao desconhecido eu acho que daria certo dessa vez', Eu começo o assunto, ela mostra curiosidade no que eu vou dizer, mas o medo me impede, e se apesar das desculpas que eu tenho pra dar, das possibilidades que eu tenho para oferecer nao for o suficiente? Eu sou uma pessoa complicada, isso o mundo inteiro sabe ou desconfia, e só eu sei tudo o que eu te fiz passar, todas as mentiras, as brincadeiras idiotas, as infantilidades, a falta de compromisso que eu tinha e que te fiz aguentar, por pouco tempo, afinal voce parece ser muito bem resolvida e logico que nao iria aturar aquilo. Eu desisto de falar. Enrolo com assuntos cotidianos. E medito: 'porque eu faria as coisas diferentes dessa vez? O que diferencia essa vez de todas as outras vezes? pq vc deve confiar em mim? ou melhor, o que eu devo fazer ou dizer para me mostrar uma pessoa confiavel?' Fico com os olhos baixos por um instante e percebo que nao sei a resposta de nenhuma dessas perguntas, mas há coisas na vida que simplesmente temos que dar a cara pra bater para descobrirmos, na teoria tudo pode ser bom, mas cara a cara, olhos nos olhos, as coisas sao diferentes. Nao sao as mesmas. Nem tudo é um conto de fadas. Mas pode chegar perto, com o nosso toque. 'Angela, eu estou aqui,' sussuro em frente ao computador. Mas na hora de escrever, embora esse seja o meu ponto forte, me foge a coragem. E fico imaginando se ela faz idéia. Será que imagina algo desse tipo? Ela sempre diz que as ex's pedem pra voltar. Todas as ex's dela. Eu ja pedi pra voltar uma vez. Concedido. Porem, parei para analisar, ja passou um ano. Um ano. Um ano em que eu comecei a estragar as coisas. Eu sempre me precipitava, nao calculava. Mas a falta da presença se mostra aqui. E da amizade que tinhamos acima de tudo. Eu parei pra sofrer as consequencias dos meu atos 1 ano depois. Eu devo ter o chamado efeito retardado, só pode ser isso. 'Angela, voce quer tentar mais uma vez?'

Dias como hoje

Dias como hoje que sepassam todo tipo de possibilidade na minha mente, mas nenhuma delas me conforta, nenhuma é boa o suficiente, ou todas tem algum tipo fatal de problema. Putarias ja nao fazem a menor diferença, acho que nao é mais abstinencia fisica, é emocional.Eu me mantenho a algumas horas ouvindo a mesma musica de um minuto e quarenta e dois segundos, decoro cada suspiro do vocalista e me sinto pior. Procuro alguem pra conversar, para me distrair, mas nenhuma conversa desenrola do jeito bom. Tento encontrar abrigo em alguam lembrança mas todas parecem ser inúteis em dias como hoje. Dias cinzas porem não bonitos, dias que chovem e o barulho encomoda meus ouvidos, dias em que nao me contento com nada. Um dia pobre seria entao. Diazinho miseravel, mas que em compensaçao nao tenho nada pra reclamr, a nao ser a falta de alguma coisa, até entao desconhecida, ou um a coisa que eu nao queira adimitir que eu queira. Tento lembrar o nome de alguem que seja realmente especial, passam alguns nomes, alguns rostos mas nada muito interessante. Tudo muito passado, artificial, carnal e porque nao dizer, futil. Uma conversa no Msn, talvez algumas postagens no facebook me encomodam como o ruido de uma mosca, mas nada preocupante. Reflito um pouco sobre o que estou escrevendo. Sobre o que é esse texto afinal? Eu nao sei. Nao sei onde quero chegar, o que mais tenho que conquistar, só sei que falta alguma coisa, que eu nao sei o que é, nem como vou conseguir. Talvez dias como hoje sirvam de alerta, talvez eu esteja esquecendo alguma coisa. Mas o que?

quinta-feira, 22 de março de 2012

Amor Doente

E de repente eu me vejo nessa situaçao. Eu nao sei exatamente como explicar, mas eu continuo com essa carencia descontrolada sem nenhum motivo aparente. Falta alguma coisa muito importante, da qual nao me lembro, coisa essa que tem me perturbado muito. Nao quero fingir nada, nao estou aqui para interpretar nenhum papel, longe disso. Sou uma pessoa transparente e que sinceramente, nao tem malicia das coisas, nao enxergo maldade, nem libertinagem. Posso estar sendo usada nesse momento, e por estar cega de carencia eu continuo indo no mesmo caminho. Muitas vezes me impeço, mas nem sempre consigo essa façanha. Queria ter um romance auto destrutivo. Queria morrer por alguem. Queria alguem que morresse por mim. Queria me machucar de maneira intensa só pra mostrar o quanto alguem tem efeito sobre mim, e vice-versa. Nao acho bobagem. Nao pense que isso é um monte de baoseiras porque nao é. Nao perco tempo com baboseiras. Estou aqui tentando entender o que se passa dentro de mim na mais pura realidade. Temo nao compreender, mas isso é um risco que corro. Do mesmo jeito que corro o risco de alguem ler isso e rir, achar que é palhaçada, ou achar que eu falo que estou carente por meia duzia de putarias no fim de semana com alguem que se comova. Mas nao é assim. Quero ser dona da alma de alguem. Quero poder dominar e subjulgar uma pessoa como um senhor de engenho faz com um escravo qualquer e miseravel. Quero uma pessoa vulneravel e confusa que eu possa moldar de acordo com o que meu coraçao precisar. Quero alguem que eu olhe e tenha vontade de chorar desesperadamente ou rir como uma crinaça doente e maluca. Quero alguem que sempre esteja ali por mim. Quero alguem que eu ligue de madrugada por estar com saudade de ouvir a voz. Uma pessoa com quem eu possa me embebedar, me drogar, me cagar, me transar, me amar. Uma pessoa que tenha uma parte de metade a mais e que me complete cor tabela. Quero ser hipnotizada, fumada, humilhada, usada, mas que ao mesmo tempo receba uma ligaçao no dia seguinte que me faça rir de tudo aquilo e dizer que foi só um dia ruim, e dias ruim existem e desaparecem. Olhos que se encontram, dedos que se entrelaçam, sorrisos que se riem sozinhos. Quero um romance programado para ser feliz e tragico ao mesmo tempo. Quero algo forte e arrebatador, como nenhum filme ou livro jamais retratou. Quero algo que fuja do entendimento dos que me cercam, algo que me tire o folego e as palavras para explicar. Quero algo que valha a pena viver, lutar e morrer.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Psicose

Despiu-a com leveza e tranquilidade
 Tirou sua blusa, desabotoou seu sutiã
 Fitou os mamilos, já enrijecidos , explorou-os com a língua úmida
 A saia já estava no chão, juntamente com a roupa intima
 Tocou seu sexo com os dedos trêmulos
 A cera quente tocou os poros dela
 Cobriu seu rosto, seus olhos, suas narinas, seus ouvidos
 O corpo todo foi vestido com a cera quente, passada de forma suave
 A cera secou e ela ficou ali, parada, imobilizada, um verdadeiro fetiche
Andou ao redor da escultura humana, observando cada detalhe, por minúsculo que fosse
 Passado um tempo puxou a cera de maneira forte e impiedosa, os gritos dela de tesão e dor não a impediram
 Arrancou de forma sagaz e com os poros todos feridos fizeram amor de um modo súbito e inconsciente
 O gozo chegou aos gritos e a cera foi jogada fora
 A fantasia havia acabado

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Verdade ou Consequencia cap. 2


 

DE LÍNGUAS ATADAS

 



























O começar de um sonho perverso

Na segunda-feira os quatro haviam sido surpreendidos. Aquela historia de que o que acontece na quara-feira fica na quarta-feira não havia funcionado muito bem. Na própria quarta-feira Ângela saiu da escola e foi para o curso, onde encontrou Hermínia, uma garota da sala de Luciana. A garota havia bebido e quando Hermínia havia lhe perguntado o que aconteceu, e contou-lhe uma versão um tanto distorcida do que havia acontecido na escola naquela manhã. Disse para ela que duas garotas haviam se beijado no meio do pátio, e que uma das garotas havia dado beijos triplos e que foi uma pegação total. Não chegou a citar nomes de ninguém, nem falar sobre si mesma, mas logo o quarteto ficaria de mãos atadas, pois o que estava feito, estava feito e não havia nada que os livrasse da escola inteira tomar conhecimento do ocorrido.

Ao chegar na sala Luciana se deparou com meia dúzia de alunos, havia chegado cedo. A conversa fiada começou:

-Luciana, você veio na quarta-feira para a escola? – perguntou Hermínia

-Vim, por quê?

- Sabe a Ângela? Então, ela na quarta chegou bêbada no curso e disse alguma coisa sobre ter sido uma pegação louca aqui na escola de manhã, disse que duas meninas se beijaram no pátio e que deram beijos triplos e que foi uma loucura! Você viu alguma coisa ou foi papo de bêbado?

- É, a Luciana não ficou na sala na quarta. Com certeza deve ter visto algo! – disse Camilo

- A Ângela contou isso para você, Hermínia? – perguntou Luciana e já pensou que se Ângela estava bêbada não se lembraria ao certo o que tinha contado e isso facilitava a ascensão, pois não seria a fofoqueira, jogaria tudo as costas de Ângela e ela que se virasse – Na verdade aconteceram algumas coisas, mas não sei se devo contar...-fez suspense que atiçou a curiosidade dos amigos

-Fala logo! – disse Washington

-É! Conta pra gente! – disse Geralda

Naquele exato momento uma chama se acendeu na mente de Luciana, essa não era uma chama qualquer, era uma chama maliciosa. A idéia veio rápida e precisa. Se Ângela estivesse realmente bêbada ao contar parte distorcida do que havia acontecida naquela manha, certamente que não lembrava ao certo o que tinha dito, ou até pior, talvez não se lembrava nem sequer de ter falado com Hermínia. Mas havia a probabilidade de Ângela ter fingido estar bêbada para das com a língua nos dentes. Luciana queria abrir o jogo para seus colegas de classe, porém tinha medo de Vitor, Murilo e que a namorada descobrissem que ela havia contado.Bom, na mente da garota tudo cairia sobre Ângela, pois não poderia desmentir sobre ter ficado bêbada senão caria no ridículo. Partindo desse principio, Luciana contou tudo para os colegas ali presentes. Do mesmo jeito que ela se sentiu tentada a cair na fofoca, todos ali também. E a noticia se espalhou como rastilho de pólvora.



° ° °

Na hora do intervalo das aulas, Luciana foi a sala de um dos primeiros anos com sua amiga Juliana. Chegaram e ficaram conversando com Sofia e Ronaldo. Depois de pouquíssimo tempo que estavam ali, rindo e conversando animadamente, Ângela entra na sala. Luciana já se deu por cansada só de olhar para a namorada. Algo havia mudado e a empolgação havia ido embora. Toda vez que Ângela puxava assunto Luciana desconversava, entrava num estado profundo de tédio.

O casal ao voltar, deixou Juliana em sua sala e foram subindo, até que encontraram Mateus e Vitor:

-Quem foi que contou?- já foi perguntando Vitor

-Contou o que? –retrucou Luciana

-Para a escola toda da semana passada! –perguntou Murilo todo exaltado

-Não sei, só sei que foi a mesma pessoa que bebeu quarta-feira e foi pro curso, mesmo curso que a Hermínia da minha sala faz! A pessoa bebeu e contou tudo! Só sei, porque a própria Hermínia veio me perguntar! Deve ter percebido pela minha reação, afinal não esperava e não sabia como agir!- exclamou Luciana de forma desesperada e afoita- Hein Ângela? Quem foi?

-Ângela, não acredito! Por que fez isso? –indagou Vitor

-Na verdade não sei se fiz...

-Ah fez sim! Mas que droga! – disse Luciana com raiva

Os quatro haviam percebido que as pessoas estavam os observando de uma forma diferente, não sabiam se era pela discussão no corredor ou pelo fato de todos já saberem do ocorrido.

Todos ali, ou pelo menos a grande maioria, já haviam manipulado alguém ou caído em algum tipo de manipulação. Igual ao modo que Luciana manipulava e Ângela caia naquele jogo cegamente. Mas como esse tipo de situação sempre acontecia e continuaria a acontecer, na cabeça de Luciana aquilo era apenas ela contribuindo para o ciclo da sociedade continuar em paz. Lembrou de quando beijou Ângela pela primeira vez, todo o nervosismo, toda a ansiedade. E agora se via de uma maneira superior, dona da situação, uma verdadeira rainha em seus sapatos e totalmente desapaixonada por Ângela. Naquele momento se viu sendo modificada, alguma gotas de maldade haviam sido postas em sua personalidade, até então inocente, por assim dizer. Ela sempre fora uma pessoa esperta mas nada sabia a respeito da vida. Prometeu a si mesma que esqueceria as verdades sobre si mesma que apenas ela sabia e ainda mais, se desafiou a ser uma pessoa diferente e entrar de cabeça nesse mundo novo, que já havia tido o gosto de conhecer. O que Luciana não sabia é que ela tinha visto uma parte muito boa e muito vaga sobre esse mundo do qual ela queria fazer parte. Quando o lado bom se é muito bom, o lado ruim é também muito ruim, a vida era feita de extremos.

Ao final daquelas cinco aulas diárias, Ângela foi até a quadra, pois iria jogar liderando o time de futebol feminino, então não ficariam juntas. Não haviam trocado um beijo sequer naquela manhã. E antes que Luciana fosse embora, a namorada foi ao seu encontro e deu-lhe um ovo de páscoa.

° ° °


Novamente chegou a quarta-feira. Um amigo de Luciana que não tinha por costume ir a escola resolveu aparecer. A garota sempre teve uma queda por ele desde que o conhecera, mas quando o conheceu estava em um relacionamento, o que por mais que ela tivesse vontade, a impedia de ficar com Jorge. Todos suspeitavam sobre a sexualidade do garoto, mas
para ela era a chamada intriga da oposição, afinal ele estava sempre nos corredores aos beijos com alguma garota. E ela imaginava se algum dia ficaria com ele.

Durante o intervalo das aulas ela e Jorge conversaram, em um certo momento chegaram Ângela e Vitor. Ângela ficou conversando em um canto com Jorge, estavam a cerca de um
metro de distancia da namorada e do amigo, mas mesmo assim os dois continuaram o que sempre falavam a noite pela Internet, sem nenhum medo de serem pegos. Falavam, trocavam olhares, tocavam-se as vezes, mas nada explicito, nenhum dos dois expressava que estava com vontade, tudo ficava por dizer e a imaginação de ambos tomava conta. O intervalo acabou e
Vitor e Ângela foram cada um para sua sala, Jorge e Luciana nunca se importaram de cabular aula, afinal, fazia um certo tempo que não se viam e lógico que ela não perderia oportunidade. Afinal, era mais forte do que ela. Conversaram, falaram sobre tudo, ela falou sobre Ângela e ele sobre uma garota que havia conhecido e a conversa fluía naturalmente. Ninguém
aceitava o fato de Luciana namorar com a Ângela Machão. Era inaceitável, não gostavam do jeito dela, nem de sua aparência, era unânime a opinião de que Luciana era bonita demais para ela.



Luciana contou para Jorge tudo sobre Vitor, sobre as coisas que haviam acontecido, ele era um amigo no qual ela tinha uma confiança jamais antes vista, contava tudo para ele, por mais errado que fosse, Jorge nunca julgava as coisas que a amiga dizia, ouvia com atenção e quando
necessário, a aconselhava. E sempre ela levava em consideração a opinião dele. Mataram as duas ultimas aulas e na hora de ir embora Murilo se juntou a eles. Ângela se juntaria mas preferiu ficar jogando basquete com os meninos de sua sala. O que frustrou completamente Luciana, ela já não estava com tanta vontade assim e para completar nem juntas mais quando ela tinha vontade conseguiam ficar. Foram indo e conversando um monte de bobagens, um dando em cima do outro. E Luciana sempre dando em cima de Jorge, e como todos sabem, toda brincadeira tem um fundo de verdade, onde tem fumaça tem fogo e por ai vai. Logicamente Murilo reparou nessa atitude e começou a incentivá-los, não só porque adorava ver o circo pegando fogo, mas porque não gostava de Ângela e adoraria vê-la frustrada e sozinha. Falava todo tipo de coisa, chegava a deixá-los encabulados, mas Murilo não ia pra o mesmo lugar que eles, então se despediu de Luciana e de Jorge e atravessou a rua. A
garota sentiu que a hora tinha que ser aquela e não tinha mais volta e continuou em seu joguinho, assim que viraram a esquina, Jorge a tomou nos braços colocando-a encostada na parede e beijou-a com vontade, ambos se tocavam no corpo todo e por um instante quase que se esqueceram que estavam em um bairro muito movimentado de uma cidade mais
movimentada ainda, percorreriam um caminho de dez minutos, porem paravam e ficavam aos beijos tantas vezes que acabou dobrando o tempo. Na hora, Luciana nem sequer lembrou-se de Ângela Machão, queria apenas estar ali e se sentir bem.

° ° °



Ao chegar no escritório, contou tudo nos mínimos detalhes para sua amiga Jade, e por mais que ela achasse errado a idéia de trair, tinha achado bom Luciana ter ficado com outra pessoa pois isso poderia prejudicar o relacionamento dela com a Machão. Ninguém na verdade apoiava aquele relacionamento.

Naquela noite ao contar para Murilo, ela o incentivou assiduamente a terminar com Ângela e não teia maior poção incentivadora do que falar do Vitor:

-Você tem que terminar!

-Estou pensando em contar sobre o Jorge, se ela quiser terminar depois disso tudo bem, mas eu não pretendo terminar.

-Luciana, escuta o que eu estou te dizendo! Você acha que o Vitor vai se prestar a esse papel? Que vai ficar com você se você estiver namorando com a melhor amiga dele? Nem sonhe! Então termina logo!

- Ai meu Deus viu! Ai Murilo! Mas que coisa! Vou pensar no que fazer! Mas e se o Vitor estiver fazendo tudo isso só para me testar? Você já pensou nisso?

-É, tem razão. Essa probabilidade existe. Eu vou ver com ele e te conto.

- Tudo bem.

Luciana foi para a sala de aula. Jorge, juntamente com os acontecimentos do dia anterior invadiram seus pensamentos, realmente havia sido bom, mas não pensava em ter algo com ele, afinal ele aparecia uma vez na vida e outra na morte. Hoje por exemplo, não tinha aparecido, o que era ate bom, pois poderia atrapalhar em potencial seus planos com Vitor, finalmente compreendeu que ele só servia para suprir suas necessidades físicas de vez em quando, afinal para isso serviam os amigos. Logo espantou os pensamentos e se concentrou no que realmente a interessava: Vitor. Luciana estava obcecada pelo garoto, não chegava a ser aquela coisa doentia que se via nos filmes, mas o fato do Vitor estar jogando com ela e de não saber o que ia acontecer a seguir a excitava. Ele se fazia de difícil e Luciana se interessava cada vez mais pela brincadeira de gato e rato. Toda a malicia nos olhos dele a enfeitiçava, num feitiço louco que a fazia observá-lo em todos os seus mais simples movimentos, como se assistisse a um show espetacular.

No final da aula de sexta feira, todos foram para o corredor de armários que ficava ao lado do pátio, tinha alunos com violão, gente dormindo, jogando cartas, conversando, Luciana foi lá e encontrou Ângela deitada com seus amigos encostados em suas mochilas, como se fosses travesseiros de cores grosseiras. Deitou ao lado dela, com o braço dela envolvendo seus ombros e a garota ruiva deitada sobre seus seios:

-Hoje a gente nem ficou junto, não é mesmo?

-É, mas tenho que te contar uma coisa.

-Fala, bebê.

-Eu te traí quarta-feira com o Jorge.

-Hahaha, sei.

-Estou falando serio, você ficou jogando basquete e eu, ele e o Murilo fomos embora juntos, no meio do caminho o Murilo foi para o outro lado e eu e ele fomos juntos e acabou rolando.

-Nossa! Esse Jorge e muito descarado.

-Por quê?

- Porque ele ficou conversando comigo enquanto você conversava com o Vitor naquele mesmo dia de manhã, se fez meu amigo. E quando eu viro as costas ele fica com a minha namorada.

-Não é bem assim, você esta falando sobre ele ficar com a sua namorada, como se eu fosse um objeto em cima de uma estante totalmente inanimado e não decidisse o que eu quero ou não fazer, não quero defender ninguém, mas o que é certo é certo, Ângela. Apesar de tudo, o erro foi meu, eu fiquei com ele e eu estava namorando, mas ele estava solteiro, eu sei que foi errado porque vocês eram meio que amigos, mas ele é solteiro, então o erro é meu, se é pra você pegar raiva, você tem que infelizmente pegar de mim.

-Ai, mas você e tão ingênua...

-Ai Ângela, você se acha tão mais esperta do que eu e esse e o seu erro sinceramente, acredite, parecendo ou não sou um ser pensante e nada acontece sem que eu permita.

-Tudo bem, mas vocês estão juntos? O que acontece agora?

-Ah, eu acho melhor nós continuarmos com relacionamento aberto, pois eu não me controlo, se você quiser ficar só de vez em quando sem compromisso tudo bem, mas ter um relacionamento não, não estou nessa fase. E do mesmo modo raciocina comigo! Você e gay, então estar comigo já basta para você, agora eu sou bissexual, se eu estiver com um garoto sentirei falta de garotas e vice-e-versa. Você não acha?

-Gente bi é complicada. Tudo bem, podemos continuar assim, em relacionamento aberto, ficamos quando der vontade.

-Ok, mas espero de verdade que as coisas na nossa amizade não mudem, pois você é uma boa pessoa, não quis te magoar, mas não podia continuar com essa mentira, não gosto de mentir. Por mais que a verdade seja horrível, é com ela que terei que conviver, então espero que você entenda que não fiz isso pra te machucar, por isso que estou sendo sincera sobre as coisas que aconteceram.

-Certo, concordo.





Pesadelo Sem Fim



Logo que se deu por solteira, Murilo e Isabelle vieram falar que queriam jogar novamente e pedir que Luciana convidasse Vitor para jogar. Ela não entendia muito bem, mas já imaginava que Isabelle queria Vitor, e Murilo para variar, queria ver o circo pegando fogo. Foi-se então a garota ruiva convidar o garoto alto com a cara mais deslavada do mundo, pois só conversaram pessoalmente mesmo nas quartas-feiras, o resto era tudo pela Internet, apesar de toda a ousadia que ambos tinham, a timidez vencia e na hora que conversavam ficavam vermelhos, riam, tremiam e ate mesmo gaguejavam. Chegava a ser comicamente excitante as conversas dos dois cara-a-cara. Enquanto Luciana falava com ele pensava seriamente sobre os interesses de Isabelle, mas logo chegou a conclusão que se a garota não tinha coragem nem de falar com Vitor e pedia o intermédio dela, só o que ela faria seria o que Luciana deixasse e proporcionasse a garota, ou seja, estava no controle da situação novamente. Alem do mais, se sentiu maravilhosamente feliz ao ouvir Vitor dizer que só iria jogar se Isa não participasse, pois achava ela feia. Então se ele queria jogar com ela significava que a achava bonita, e isso quando se e adolescente já era meio caminho andado, só faltava ter jeito e conseguiria fácil. A garota ruiva sentia que já tinha o jeito, mas achava que se fazer de difícil era como se fosse um fetiche a mais e dava uma apimentada na brincadeira.

Na semana que se seguiu tudo aconteceu do modo que deveria acontecer: Ângela ficou estranha com Luciana, Luciana andava com Murilo para todos os lados, Murilo pressionava Vitor dizendo que a garota ruiva não iria mais ficar atrás dele se ele enrolasse muito e Vitor se manteve na mesma posição, fazendo-a ficar cada vez mais interessada. Até que na quinta-feira as coisas aparentaram mudar:

-Luciana, sua vadia! Você sabe que amanhã não terá aula, né? – disse Murilo

-Sei sim e você sabe o que isso quer dizer?

-Claro que sei! Vamos jogar! Hahaha!

-Mas sem a Isabelle! Aquela menina é toda mole! Quando ela vem de shorts a perna dela parece uma gelatina de tão mole! Hahaha! – riu Luciana

-Nossa, vadia! Limpe o veneninho no canto da boca! Mas que é verdade é verdade! E então, você chama o Vitor?

-Não.

-Como não? Não vai chamar? Quem vai jogar?- desesperou-se Murilo

-Ah, cansei vadia. Cansei de ficar que nem tonta atrás dele, faz uma semana praticamente que eu terminei com a Machão e nada desse cara vir falar comigo. Já estou ficando entediada...

-O pior é que você tem razão. Esse joguinho já foi longe demais. E u pedi pra você convidar porque ele está pensando seriamente em faltar amanhã e eu estava pensando com os meus botões que se você convidasse ele sendo bem vadia talvez ele mudasse de idéia.

-Mas aí é justamente onde está o erro Murilo! Eu sempre estou aqui disponível, com certeza ele vai me usar de estepe quando aparecer outra vadia e isso estraga tudo, amanhã as coisas vão mudar! Vou fazer do meu jeito!

-Olha eu não queria falar nada, mas já que você comentou sobre outra vadia aparecer...

-Conta tudo!

-Então, sabe a Sasha da minha sala?

-Sei. O que tem ela? – perguntou Luciana arregalando os olhos

-O Vitor sempre foi caidinho por ela desde o primeiro ano e agora aparentemente ela está com sede de Vitor.

-Ai não, vadia! Não me diga que eles ficaram!

-Não! Não ficaram, mas não sei se eles andam conversando pela internet...

-Pois bem, e agora?

-Agora espantamos essa vadia, afinal nós somos as vadias do Vitor! –disse Murilo

-Sim! Nós somos! - concordou Luciana achando uma atitude totalmente descartada para um heterossexual, essa foi a primeira vez que a garota desconfiou da sexualidade do amigo

-Vamos ser as Espanta Vadias! E nenhuma vai passar por nós!

-Ok, eis o que iremos fazer: eu vou controlar a situação pela internet hoje a noite e enquanto isso você joga todo o psicológico em cima dele, fala mal da Sasha, arruma defeito pra ela, faz qualquer coisa, mas espanta a idéia da cabeça dele!

-Sim, sim, vai dar tudo certo!



Ao voltar para sala, Geralda começou a puxar assunto:



-Estranha essa sua amizade repentina com o Murilo...

-Normal.

- Você já ficou com ele?

- Não.

- Por enquanto, né?

-Ai, estou concentrada em outras coisas...

-No Vitor?

-É.

-Vocês já ficaram depois daquele dia da Isabelle? –perguntou Geralda curiosíssima – Ele é muito bonito...

-Talvez ficamos, talvez não...Quem sabe? – disse desconversando totalmente

-É, quem sabe...



Naquela noite, diferente do que fazia normalmente, ao ver que Vitor havia entrado na internet, Luciana não fez nada, não foi falar com ele e quando o garoto veio puxar assunto com ela, ela respondia de maneira vaga, fora a demora para responder. A demora não era nem por ela estar fazendo tipo, mas sim porque Úrsula iria viajar no dia seguinte e a garota ruiva iria ficar na casa de sua avó e patroa Dona Polvilho. A avó e o namorado dela, Pedro, estavam chegando e ela teria que ter as malas prontas.



° ° °



Amanheceu e ao chegar na escola nem Murilo nem Vitor estavam lá. O que fez Luciana ficar doida de raiva. Tudo havia ido por água a baixo. Tinha certeza de que estragara tudo na noite passada por não ter respondido. Simplesmente havia perdido duas semanas da sua vida indo atrás de um garoto e nem sequer conseguiu ficar com ele. A culpa sem duvida era de Ângela, maldita Machão! Maldita hora em que foi se envolver com ela! Mas se não tivesse se envolvido com ela nem teria tido contato com Murilo e Vitor. Era um paradoxo. Um paradoxo maldito e redundante.

Era reunião pedagógica e os alunos teriam que esperar no pátio até as nove horas da manhã. Luciana durante essas duas horas amaldiçoou o dia, a escola, Vitor, Ângela, Murilo, Sasha, a internet e tudo o que havia em volta. Até que quando deu nove horas e cinco minutos recebeu uma ligação de Murilo, dizendo que já estava chegando porem que Vitor só apareceria as onze horas, o que já era alguma coisa.

Enquanto não dava a hora do garoto alto chegar, Luciana e Murilo ficaram na biblioteca pois o amigo tinha alguns trabalhos do curso para fazer e enquanto efetuavam a pesquisa ficaram ouvindo musica no celular. Como a biblioteca estava aparentemente vazia eles estavam conversando animadamente sobre o que ia acontecer as onze horas. Um olhava para a cara do outro e dizia que o tempo estava passando e o outro caia na risada. Até que Geralda apareceu:



-Luciana, o que vocês estão fazendo?

-Ouvindo música francesa! – disse Murilo antes que a garota ruiva pudesse responder qualquer coisa, e a resposta dele a fez cair na risada

-Mas o que tem onze horas?

-A gente vai fazer uma coisa! Uma coisa muito legal!

-E o que seria?

-Ah, minha cara! Isso é um segredo que não podemos contar! – riu-se Luciana



Do mesmo modo que apareceu, Geralda foi embora e não atrapalhou mais os planos e os risos dos dois amigos. De repente, o celular toca, e Murilo atende, mas não retira o fone do celular, fazendo com que Luciana ouvisse toda a conversa. Vitor finalmente havia chegado e ao ouvir sua voz no telefone pela primeira vez, Luciana ficou derretida. Aquela voz máscula, digna de um locutor de radio caía sobre seus ouvidos como uma hipnose brutal. Matinha o pensamento positivo, mas tinha medo de que isso não fosse o suficiente, pois bem, se manteve firme e assim que Murilo desligou o telefone se arrumaram e saíram da escola.

Logo que saíram, Luciana olhou para aquele garoto que estava sentado ali, esperando por eles, e fitou aqueles olhos amendoados por um tempo, ainda não havia enjoado, mas se manteve indiferente. Murilo quebrou o gelo:



-Vamos numa sex shop?

-Fazer o que lá? – perguntou Vitor

-Ah, tenho que comprar um gel do beijo e um daqueles dados interessantes...

-Pra quê? – indagou Luciana realmente interessada

-Para a orgia que faremos na sua casa amanhã Lu...

-Orgia? Minha casa? Amanhã? Hahaha! Tá de brincadeira?

-Não, você não disse que sua tia foi viajar?

-Disse.

-Você não está lá sozinha?

-Não, fui para casa da minha avó ontem a noite...

-Ah! Então é por isso que você não respondia? – perguntou Vitor

-Você falou comigo ontem? Respondi o Murilo normalmente, nem vi que você estava falando, desculpe. – mentiu, na verdade não respondeu nenhum dos dois por estar realmente ocupada

-Mas amanhã vamos sair? Nós três? – puxou assunto novamente

-Com certeza, estou com uma sorte de estar na minha avó porque aí fico a vontade. É só dizer onde e quando! – disse animadamente Luciana

-Vamos combinar hoje a noite, mas agora temos que ir na sex shop!

-Ai, vocês tem umas idéias viu! Não vou em sex shop nenhuma! – recusou Vitor

-Olha, ninguém está te obrigando a nada, pode ficar aí então, nós vamos lá e voltamos rapidinho!

-Não quero ficar sozinho aqui, vou com vocês.



E foram indo a uma galeria que havia perto da escola, dentre milhares de lojas que vendiam todo tipo de coisa tinha uma sex shop. Ao chegar, Murilo disse novamente que queria um gel do beijo e um daqueles dados de ‘brincadeiras’. Discutiram por uns cinco minutos sobre quem iria lá comprar, e acabou sobrando para Luciana, mas ela não conseguia conter o riso. Vitor fora esperar pelos dois do lado de fora e enquanto Luciana caía na risada a cerca de cinco metros da loja, Murilo olhou bem nos olhos risonhos dela e disse com convicção para que ela mordesse o lábio inferior, ela o fez e o riso parou como num passe de mágica. Foi até a loja, pediu, pagou com o dinheiro que o amigo havia lhe dado e foi ao encontro dos garotos que estavam na porta da galeria. Ao mostrar o que havia comprado, Murilo disse que ela havia comprado os dados errados. Os dados que chegaram as mãos dele eram de posições sexuais, ele os observou e brincou com a amiga:



-Você pretende brincar com esses dados? Fazer essas posições?

-Seu besta! Só tinha desse tipo, e além do mais, eu não sabia que era para nós jogarmos, achei que era para algumas de suas festinhas particulares...

-Hahaha! Acho que você podia brincar com esse dado assim mesmo, Luciana! –engraçou-se Vitor

-Ai começou! Viu o que você fez Murilo?

-Ah vamos parar de assediá-la Vitor! E então, vamos para o curso?

-Nada disso, está cedo e eu me recuso a ir trabalhar cedo assim!

-Vem com a gente, é perto do metrô, como as linhas são diferentes, você terá que fazer baldeação, mas vale a companhia, não é?- convidou Murilo

-Tudo bem. Mas é longe?

-Não, você vai ter o que fazer, nem vai perceber...-disse Vitor com seus olhos penetrantes na garota

-O que terei para fazer, Vitor? – ela pergunta como a presa que convida o predador a fazer parte do habitat natural

-Nada, nada não.



Andaram, andaram e andaram, o curso não era tão próximo assim. Mas iam conversando, rindo e se divertindo com qualquer besteira que viam na rua. O celular de Vitor tocou e enquanto ele conversava entretidamente, Murilo sussurrou nos ouvidos de Luciana uma coisa que a intrigou, e as suspeitas que teve na recente conversa com o amigo foram confirmadas. O garoto disse que queria ficar com Vitor também, nem que fosse em um beijo triplo, mas queria senti-lo também. Não precisava dizer mais nada, Luciana teve certeza sobre a bissexualidade dele. Depois de escutar os desejos bombásticos não pode conter sua cara mais surpresa, pois jamais havia sequer pensado sobre isso, até porque eram amigos. Não tinha o poder de visualizar a cena em sua mente, porem achava a idéia interessantíssima, afinal os dois eram realmente bonitos, de maneiras diferentes, mas eram. Nunca tivera pensado em dois garotos juntos antes, sempre pensara em garotas, até sexualmente, mas em garotos jamais. Não pensava em cenas sexuais, só ficava nas preliminares, mas a fantasia era perfeita em sua mente, dois machos incrivelmente bonitos e afeminados um tomando o outro nos braços e toda a loucura da submissão. Um se submetia aos delírios do outro e se deixavam dominar como animais dóceis. Não podia negar, era lindo, era excitante, era um sonho. Esqueceu-se do mundo real, se os garotos conversaram algo ou falaram com ela, Luciana nem se deu conta. Estava praticamente caminhando passos leves e lentos nas nuvens e sua cabeça estava em outra dimensão, fantasiando, pensando, desejando loucamente ver aquela cena. Sentiu uma brisa bater em sua face e voltou a realidade, bem na parte que a interessava, Murilo estava dizendo que agora iriam andar naquela rua até o final e depois já chegariam ao curso. Era uma rua longa, aparentemente composta por fabricas, haviam muros altos, nenhum carro na rua, apenas alguns caminhões estacionados e o silencio. Chegava a ser um silencio sepulcral, os únicos barulhos eram seus passos e suas vozes. Mais nada. Assim que Luciana conseguiu sentir o lugar em todas as suas particularidades começou a intimar Vitor, pediu a Murilo o gel do beijo, passou com vontade nos lábios, o gosto de menta logo invadiu seu paladar. Ficava repetindo e rindo a todo momento que a rua vazia e calma iria acabar. Repetia como um texto doentio. Uma vez após a outra. A rua vazia e calma iria acabar. A rua. Acabar. Era tão vazia. A rua vazia e calma iria acabar. Olhava para Vitor, abria um sorriso e repetia. Repetiu uma, duas, três, oito, quinze, infinitas vezes. Estavam andando um ao lado do outro. Vitor perto do muro, ao lado de Murilo e este ao lado de Luciana que andava perto da guia. Até que quando a garota ruiva foi olhar para Vitor reparou que ele simplesmente havia empacado ali. Não andava mais. Parou de uma hora para outra como um carro velho que enguiça e se nega a funcionar. Luciana virou-se e caminhou calmamente para o garoto, o olhou nos olhos e perguntou como quem não faz idéia do que vai acontecer se ele estava bem. E mesmo depois da pergunta ter saltado de sua boca ela continuou caminhando na direção dele até que ficaram bem próximos e foi aí em que a garota ruiva colocou o garoto alto na contra a parede e trocaram um, dos milhares de beijos que trocariam naquele mesmo dia.

O garoto teve que encostar na parede e com as pernas inclinadas para frente como se estivesse sentado em uma nuvem imaginaria, logo se abraçaram e beijaram-se delicadamente, quando se deram por si, Murilo já havia ido embora, nada mais correto, afinal não fazia nenhum sentido ele permanecer ali, olhando, esperando o casal. Toda a delicadeza fora embora com a chegada da perversão. Os dois corpos se contraiam um contra o outro, um roçava no outro de maneira firme e excitante. Os dedos dele percorriam o corpo dela com a vontade de quem sente seu sexo suar insanamente. Luciana violava o corpo de Vitor com a ardência de suas unhas, tamanho era o desejo que estava sendo saciado. Quando ela o fazia, o garoto alto não podia se conter e gemia, quase que sussurrando no ouvido dela. E a voz quente em seu ouvido a fazia arrepiar-se de prazer.

Não se sabe ao certo se era por horário de almoço, mas o movimento voltou a ativa na rua vazia e calma, os caminhões chegavam e partiam aparentemente sem nenhum porque e depois de um certo tempo ali, a garota ruiva perguntou ao garoto alto que horas eram e foi surpreendida com a resposta: ‘dez para a uma’. Tinha dez minutos para ir para o trabalho e ainda nem sequer havia almoçado, estava super atrasada e realmente não queria ir embora, finalmente conseguira ter Vitor em seus braços e agora o relógio pregava uma peça, como se a estivesse fazendo acordar de seu sonho mais bonito de maneira precoce, deixando as coisas partirem, se desfazendo diante dos seus olhos. Da maneira mais delicada possível ela disse:

-Preciso ir, entro no escritório daqui a dez minutos, não almocei e tenho que fazer baldeação ainda...

Ele nada respondera apenas a beijou mais uma vez, ficaram ali por cerca de duas horas e não queriam abandonar aquele momento, onde não haviam colegas se intrometendo, curiosos para fofocar e Murilo para atrapalhar. Ela tentava se desfazer do abraço carinhoso, porem forte de Vitor, mas ele realmente não pretendia a deixar ir embora. A segurava com toda a sua força e todo o seu carinho ao mesmo tempo, lembrava uma criança que não queria se desgrudar de um bicho de pelúcia. Ela dizia varias vezes que tinha que ir, e ele não respondia, o que a fazia ficar encabulada por estar estragando aquele momento tão esperado. Luciana apesar de não querer e de adorar estar presa nas garras de um amante dos mais interessantes teve que se desfazer do abraço. Na hora em que seus corpos se separaram, ele se ofereceu gentilmente para levá-la até o metrô, gesto esse que foi facilmente aceito.



Naquela noite combinaram, os três, o encontro do dia seguinte. Diante de compromissos de um, compromissos de outro acabaram por se encontrar as nove da manha de sábado na mesma estação em que Vitor a havia levado no dia anterior, aquela estação era próxima a um shopping. Eles iriam até o shopping logo que o mesmo abrisse as portas e iriam ao cinema. Sim, o cinema. Pela manhã era vazio e ainda iriam ver um filme de terror. Ninguém iria ver um filme de terror pela manhã. Ninguém mesmo, a quantidade de pessoas na sala seria mínima e poderiam jogar a vontade. Luciana pensou seriamente sobre ir ou não ir. Pois se não fosse e arrumasse uma boa desculpa iria parecer que ela tinha coisa melhor para fazer enquanto estivesse dormindo na casa da Dona Polvilho. Era muito interessante que os garotos achassem que ela tinha coisa melhor para fazer pois aí tentariam sempre que desse se encaixar em seus planos. E alem do mais, não teria que ficar fazendo toda aquela encenação sarcástica dando a entender as coisas, coisa essa que ela já estava cansada de fazer. Mas aí pensou seriamente. Já estava de castigo, quando sua tia Úrsula voltasse não iria poder sair. Aquela poderia ser uma chance em mil. Tinha que agarrá-la junto ao peito e ir com ela adiante e ver aonde dava, descobrir o quão funda era a toca do coelho. Estava decidida, afinal ela havia feito uma promessa a si mesma, e não estava de brincadeira. Combinaram que Luciana levaria qualquer bebida alcoólica forte e destilada que coubesse em sua bolsa.



Acordou com o gato insuportável de Dona Polvilho a encarando. O gato estava a alguns centímetros de distancia da face de Luciana. Aqueles olhos verdes arregalados a olhava friamente enquanto dormia, como se a rondasse, como se planejasse algo, como se soubesse de alguma coisa maligna. Ela acordou num susto, logo foi para o banho, e depois pensou seriamente sobre qual roupa iria usar. Se fosse de saia ou de vestido poderia parecer muito oferecida, de shorts ficaria estranha, decidiu ir com uma roupa comum para não dar pinta de que estava explodindo de ansiedade e agiria de forma totalmente casual, sem parecer desesperada e fingindo não ter lembranças ou sentimentos pelo dia anterior. Foi até o mercado, olhou a prateleira de bebidas, analisou friamente e acabou por comprar algumas varias latas de pinga com um alto teor alcoólico. Depois de ter passado pelo caixa, sem nenhum problema para comprar as bebidas tinha que achar lugar em sua bolsa para guardá-las e não poderia voltar para a casa de sua avó com latas de pinga, sentou no banco de uma praça e se livrou das bugigangas ali mesmo e arrumou calmamente as bebidas dentro da bolsa, ato esse que foi assistido por alguns curiosos que estavam ao redor. Estava pronta, já tinha as bebidas, já eram quase nove horas, resolveu ir.

Quando chegou na estação combinada não viu nenhum dos dois. Pensou que os dois não iriam aparecer. Ficou aflita, se sentiu angustiada, enganada, uma boba em seus sapatos. Até que Murilo chegou e já veio dizendo que Vitor estava chegando, iria dar uma atrasada afinal ele não morava em São Paulo, mas sim em Guarulhos, então era um atraso totalmente compreensível. Enquanto aguardavam Murilo falava para a garota que o plano era embebedar Vitor para que esse ficasse com o amigo sem relutar, sem fazer escândalo ao ver o amigo demonstrando suas vontades. Luciana ouvia tudo aquilo e ficava fascinada, nem nos amigos mais poderíamos confiar. Desconfiou do caráter de Murilo por um instante, mas é como dizem tenha os amigos perto e os inimigos mais perto ainda. Vitor chegou e agiu exatamente como Luciana pretendia agir naquele dia. nao deu muita atenção a ela, nem ela deu a ele. Ficaram indiferentes. Chegaram ao cinema, pegaram os ingressos e logo foram para a sala.



° ° °



A garota ruiva chegou em casa cansada, antes que Dona Polvilho chegasse foi até o banheiro e cobriu a marca roxa em seu pescoço. Achou graça. Deitou no sofá e dormiu.

Dormiu por algumas horas, tomou banho e cobriu novamente a marca em seu pescoço, não viu graça, não achou legal, não ficou feliz por ter uma marca de Vitor nela. Antes de cobrir a fitou por alguns minutos. Observava, passava a mão, olhava de outro ângulo. Olhou em seus próprios olhos no espelho e tentou analisar a situação de forma fria e calma. Sentiu raiva. Olhava no fundo dos próprios olhos diante do espelho e não via ela mesma, procurava algum tipo de verdade escondido ali dentro dos olhos escuros, mas nada encontrou. Apenas ficou ali, se encarando. Não tinha mais certeza das coisas. Analisava de uma maneira bem humana, por assim dizer. Faria a mesma coisa? Fora feito alguma coisa? Como seriam as coisas? Algo errado havia acontecido? Não sabia. Simplesmente não sabia. Baixou os olhos como se tentando se recordar, ficou estática e logo se voltou para si mesma e disse com firmeza e verdade: Não importa. Não adiantava chorar pelo leite derramado, se é que havia sido derramado. Acreditava em dias ruins, todos têm, cada um com uma intensidade diferente, mas não se podia deixar esses dias que eram apenas grãos determinarem um prato inteiro. Tinha que falar com Murilo, mas já não sabia se um aconselhamento dele iria servir de alguma coisa, mas não queria ter que explicar para ninguém o que nem ela sabia direito, então era só com ele que ela poderia falar.



Murilo: Onde é o incêndio? Você me mandou cinco mensagens, não respondi porque estava falando com o meu pai.

Luciana: Estou inconformada. Fazia idéia do que ia acontecer, eu até queria, mas esse negocio de não fazer idéia do que aconteceu é complicado...

Murilo: Lógico que é complicado, mas estou aqui, diga o que não consegue lembrar que eu te esclareço.

Luciana: Por que diabos você quis me beijar?

Murilo: Ah, eu ia ficar ali olhando vocês dois? Não faz nenhum sentido...

Luciana: Mas você não disse que queria ficar com ele?

Murilo: Disse e mantenho, mas era só para dar graça. Você não gostou?

Luciana: Gostei, hahaha. Acredite não tive nenhum problema quanto a isso, você não foi problema, o problema mesmo é o Vitor.

Murilo: Por qual motivo?

Luciana: Por que eu não lembro. O que a gente fez?

Murilo: Nada. Só as coisas normais que acredito eu que vocês já tinham feito ontem.

Luciana: Hahaha, por que diz isso?

Murilo: Por que parecia que vocês já se conheciam, fisicamente, meio que houve uma interação muito grande, um tipo de afinidade, entende?

Luciana: Sei. Eu acordei e ele estava com... Ah você sabe...

Murilo: Mas não estava completamente colocada, ele estava colocando naquela hora. Acordou?

Luciana: Eu estava de olhos abertos por acaso?

Murilo: Não reparei, não fiquei olhando vocês. Mas como vocês estavam falando um com o outro achei normal.

Luciana: Eu falei o que?

Murilo: Ah coisas normais, vocês riam muito.

Luciana: Hahaha, imagino. Mas também não era para ser diferente, eu não tinha jantado nem tomado café, só havia almoçado, estava a praticamente a vinte horas sem comer, quando bebi, travei, faz todo o sentido.

Murilo: Foi engraçado no cinema, mas quando saímos foi totalmente estranho, você não acha?

Luciana: Acho que tudo foi estranho, droga. Ficar bêbada não é o meu forte.

Murilo: Ai para de se depreciar, ele estava tão confuso quanto você, não fique aí se achando a maior vitima, a coitadinha. Só acho que agora vai ser estranho.

Luciana: Ah você acha? Pois eu tenho certeza, se eu soubesse que ia ser esse lixo teria ficado aqui dormindo.

Murilo: Ai, não é para tanto, nem aconteceu nada.

Luciana: Mas acho errado ele ter tido intenção de que algo acontecesse sendo que eu não conseguia nem abrir o olho.

Murilo: É, realmente. Mas é igual eu te disse depois que o Vitor foi embora lá na livraria, virgindade é coisa séria, você tem que pensar muito antes para não se arrepender depois, eu me arrependo até hoje de ter ido para um bordel qualquer, não por questão de amor nem nada, mas prostituta é fogo. Você não sabe se ela esta gostando de verdade, se ela esta fingindo, se ela tem doença, sei la. Tem uma serie de coisas que ficam na lista do contra sobre prostitutas.

Luciana: Não sei como você teve coragem, sinceramente.

Murilo: Ai, nem eu, sei lá, quando se é menino você meio que tem que se provar algumas coisas totalmente desnecessárias.

Luciana: Tá, e qual é o conselho agora?

Murilo: Finja que não está na internet e eu vou falar com ele e te mandar a conversa.

Luciana: Tudo bem.



Enquanto aguardava a mágica de Murilo acontecer, Luciana pensava, tentava recuperar o vazio de sua mente, nunca havia ficado bêbada antes e essa perda de memória era uma coisa completamente nova. Estava submersa em loucuras e suposições da sua própria mente quando Ângela começou uma conversa:



Ângela: Olá, como foi o seu sábado?

Luciana: Foi bom, dormi muito.

Ângela: Você ficou dormindo o dia todo?

Luciana: Fiquei. Por quê?

Ângela: Desde aquele dia que jogamos eu tinha certeza de que o Vitor estava afim de você. Achei que ele já tinha agido. Afinal, ele mesmo veio me contar meio que por respeito depois que terminamos que ele estava afim de você. A essa altura já imaginava que tivesse rolado algo, ou que ele tivesse a chamado para sair. Mas pelo visto vocês são lentos.

Luciana: Até pensamos em sair, eu, ele e Murilo, mas resolvi que ia dormir o dia todo, Murilo foi comprar umas coisas e Vitor tinha treino de vôlei.

Ângela: Mas vocês já ficaram juntos?

Luciana: Não, por quê?

Ângela: Então vocês não se viram hoje?

Luciana: Não, nem nos falamos, entrei na internet faz pouco tempo e ele não está logado como pode ver. Por que tanta insistência?

Ângela: Por nada. Tenho que te contar uma coisa.

Luciana: Diga.

Ângela: Eu também te traí.

Luciana: Quando?

Ângela: Quarta-feira.

Luciana: Na quarta-feira que eu te conte sobre o Jorge?

Ângela: Sim, no curso a tarde eu fiquei com a Betina.

Luciana: Hahaha.

Ângela: Qual é a graça? Estou tentando ser sincera com você!

Luciana: Mas Ângela, não tem como você ter me traído na quarta-feira a tarde porque pela manha nós havíamos combinado não ter nada serio uma com a outra.

Ângela: Mas de qualquer forma estou contando que fiquei com alguém para ser verdadeira.

Luciana:Tudo bem, eu agradeço muito a sua consideração.

Ângela: Não tem nada que você queira me contar?

Luciana: Não, por quê? Eu deveria?

Ângela: Não, não. Só estou perguntando.

Luciana: Ah ta.



Luciana não podia negar que tinha ficado tentada a contar para a amiga tudo que havia acontecido. Pedir aconselhamento, ou pelo menos um ombro amigo. Mas não podia colocar a carroça na frente dos bois. Não havia conversado com Vitor ainda, não sabia o que ele tinha a dizer, não sabiam como as coisas haviam sido. E alem do mais não sabia como Ângela iria reagir. A garota ruiva achava que a ex-namorada faria um escândalo, pois não acharia justo Vitor tê-la roubado dela para tratá-la daquele jeito. Mas as cartas ainda não estavam todas na mesa e os dados nem sequer haviam começado a rolar. Infelizmente Luciana não estava no comando da situação e qualquer coisa poderia acontecer. Isso a deixava completamente perturbada. Olhou para o relógio e já eram dez horas da noite. Perguntou-se se esperaria para ver se Vitor iria entrar na Internet ou não. Queria se desconectar, desligar o celular e ficar totalmente inacessível. Analisou friamente e por fim a curiosidade tomou conta, ela ficaria ali esperando.

Estava inquieta com toda aquela espera e Luciana foi se adiantar conversando com Murilo:

Luciana: Você sabe se ele vai entrar na Internet?

Murilo: Não.

Luciana: Mas você não acha que ele me tratou mal?

Murilo: Acho que ele te tratou igual a uma vagabunda.

Luciana: Serio?

Murilo: Serio. Saiu e nem se despedir de você ele se despediu. Muito sacana.

Luciana: Eu estava pensando nisso, só precisava que alguém me dissesse.

Murilo: Aquela hora logo que a gente saiu do cinema vocês conversaram o que?

Luciana: Ah, eu disse para ele que eu acreditava em dias ruins e que tinha sido um lixo mesmo mas que existiam vários fatores como eu ter ficado mal, como você estar ali do nosso lado...

Murilo: Ai você não tinha que ter sido tão compreensiva desse jeito. Se mostrou muito disponível. Ai Luciana não sei não viu.

Luciana: Nem eu, mas vou esperar para ver o que acontece.

Murilo: E o jeito. Ele acabou de me mandar mensagem falando que vai entrar daqui a pouco.

Luciana: Ai não sei o que fazer!

Murilo: Calma, finja que não esta logada, não fale com ele, eu converso e resolvo, ai te mando a conversa.

Luciana: Ta bom, vou ver se eu consigo.

Murilo: Ai para de ser afobada que eu estou ate vendo você estragar tudo!

Luciana: Ta, ta. Vou seguir o conselho.

Poucos minutos se passaram e logo Vitor apareceu, e a garota ruiva não se controlou:

Luciana: Ola!

Vitor: Tudo bem?

Luciana: Tudo e você?

Vitor: Tudo ótimo, nossa tava lembrando de hoje. Hahaha!

Luciana: Dia estranho, né?

Vitor: É.

Luciana: Eu não lembro das coisas! Hahaha!

Vitor: Do que você não lembra?

Luciana: De quase tudo. Lembro da gente entrar, beber, de você me empurrar a sua latinha, lembro do desafio do Murilo.

Vitor: Qual desafio você lembra?

Luciana: Ah, daqueles do começo, o que ele pediu pra gente ficar, o que eu fiquei com ele, da minha cara de espanto quando ele pediu isso. Hahaha! Até que foi engraçado!

Vitor: Foi sim. Eu não achei que ele fosse pedir aquilo, mas não o culpo.

Luciana: Hahaha, mas tem umas coisas que estão embaçadas na minha cabeça.

Vitor: Me conta.

Luciana: Não lembro da hora que você colocou camisinha.

Vitor: Ah, eu coloquei porque não sabia o que ia acontecer.

Luciana: Mas aconteceu alguma coisa?

Vitor: Não, relaxa sua bêbada! Hahaha!

Luciana: Ah ta, só to perguntando, afinal se trata da minha pessoa.

Vitor: Tinha uns momentos em que eu sinceramente não sabia o que fazer.

Luciana: Quais?

Vitor: A gente tava la, juntos, mas você falava umas coisas que eu não entendia nada, nada mesmo, eu olhava para o Murilo e a gente dava muita risada.

Luciana: Nossa, não faço idéia do que você ta falando! Hahaha! Imagino a sua cara!

Vitor: Foi engraçado. E tinha vezes que você falava pra eu parar sabe?

Luciana: Como? Não entendi.

Vitor: Você ficava falando: ‘’para, para’’. Você tava meio maluca.

Luciana: Eu pedia para você parar?

Vitor:E. Hahaha!

Luciana: E o que você fez?

Vitor: Continuei normalmente oras, não sabia se era coisa da sua cabeça, se era loucura das coisas que você falava enrolado.

Luciana: Sinceramente, não sei o que te dizer.

Vitor: Nem eu.

Porém eles conversaram ate as quatro horas da manhã, ficaram falando sobre o que um achava do outro, sobre experiências passadas, ele até ligou a webcam. Quando foi dormir, Luciana ficou deitada pensando sobre o que o garoto alto havia dito. Ele não teria motivo nenhum para inventar aquilo. Por que ela pediria para que Vitor parasse? Ele estava fazendo algo de errado ou ela só disse aquilo porque estava sob efeitos do álcool? Mesmo se fosse bobeira dela, ele deveria ter parado qualquer coisa por mais ridícula que fosse?

Murilo sabia de algo e não queria lhe contar? Se Vitor estivesse fazendo o que não devia com Luciana embriagada, Murilo, como amigo,tinha por dever impedi-lo? Murilo era um amigo de verdade? Remoeu suas duvidas por quase uma hora e acabou adormecendo.



° ° °

Durante o domingo ficou pensando, procurando respostas nos vãos de seu pensamento. A situação havia piorado, buscava por memórias perdidas com determinação, mas nada a fazia lembrar. Conversou com Murilo, perguntou se ela pedia para Vitor parar qualquer coisa que ele estivesse fazendo e ele dizia apenas que não se lembrava, que não estava prestando atenção. Luciana lembrou de quando ele disse que pretendia embriagar o amigo para que pudessem trocas algumas caricias. Tinha uma visão doentia do homossexualismo do amigo. Não sabia até onde ele seria capaz de ir para experimentar dos lábios do garoto alto. Pensou em contar para Vitor, pois afinal era errado que Murilo o fizesse por que além de ter que embriagá-lo, forjava uma amizade por segundas intenções, sabe-se lá desde quando. Mas na qual se viu tomada por uma frieza naquele cinema e não inventaria uma coisa dessas, então decidiu deixá-lo a mercê de Murilo, que não desistiria fácil e permaneceria em suas tentativas custasse o que for, então essa seria sua maldição. Ficaria sendo enganado pelo amigo que mais confiava e mais subestimava, ficaria na mão do palhaço, para sempre preso em sua fantasia mais bonita, porem na realidade mais tenebrosa que seus olhos não iriam ter coragem de se abrir e enxergar. Quem havia dado ousadia a ela de iniciar essa guerra social foi o próprio Murilo, ele não admitiu que ela disse que queria que ele parasse mas disse algo que os ouvidos da garota ruiva traduziram como se fosse uma confissão. Murilo dizia com a maior naturalidade do mundo. Perguntava retoricamente a ela. "Amor próprio existe? Dignidade existe? Verdade existe? Honestidade? Companheirismo?’’ Ela abriu os olhos raivosos e uma lagrima estranhamente fria caiu do canto do olho. Não fazia mais sentido. Estava em um paradoxo doentio: estava apaixonada pelas garras que a feriram. Agora deixaria as garras a acariciarem como se nada houvesse? Ou deixaria Vitor virar apenas uma lembrança de um dia que não deu certo? Não sabia e por mais que suas mãos estavam tremulas de ansiedade de agir e sair de cima do muro, resolveu dar tempo ao tempo e ver o que iria acontecer.



° ° °

Segunda-feira, Luciana acordou uma mistura de excitação e medo. Durante sua inconsciência em forma de sonho. Vitor estava sentado numa cadeira no meio de uma escuridão, trajando apenas uma samba-canção preto preta, Luciana sentou no seu colo de frente para ele e enquanto se beijavam tinha seus longos cabelos ruivos arrancados, mecha por mecha, deixando sua cabeça nua e em carne-viva em alguma partes. Se beijavam e ela sentia uma dor indescritível porem o gosto de couro de anjo em sua boca e não conseguia se impedir de continuar. Deitaram no vazio, ela se enroscava por cima dele e no ápice de sua loucura ele cortava o corpo dela e por fim enfiava uma faca em sua jugular, um gemido de prazer interrompido pela dor.

Guardou cada imagem grotesca de seu "sonho" e foi para a escola. Chegou e agiu normalmente como se nada houvesse. As coisas andaram normalmente até que ela pediu para ir ao banheiro, no caminho cruzou com Isabelle no corredor:

- Como foi sábado?

-Não sei, o que aconteceu sábado, Isa?

-A Ângela me falou que teve uma orgia na sua casa sábado a noite. Fiquei supresa de não ter sido convidada...

-Não teve festa Isa, verdade. A Ângela veio me fazer umas perguntas estranhas mas não teve orgia.

- Mas e ai? Fez o que no sábado?

- Eu? Ah – pensou sobre a mentira que contou para Ângela, olhou no fundo dos olhos castanhos de Isabelle e sentiu um ar de compreensão, decidiu contar tudo, de sexta e sábado, logo terminou – mas estamos bem, normal, ate que estou indiferente.

-Não Luciana! Não é certo!

-Como assim?

-Você sabe que não e certo. Eu namorei um menino por alguns meses e um dia ele me bateu. Fui chorando para casa e contei para minha mãe, e juntas, decidimos que íamos fazer um boletim de ocorrência, por mais que eu o amasse, eu tive que fazer isso. E você agora vai continuar?

-Ah Isa, acho que e exagero seu, e não sei foi tudo exatamente como eu imagino, tem muita coisa que está em aberto.

- Mas Luciana isso é serio, se ele mesmo disse que você pediu pra ele parar, você está esperando o que para dar um corte nisso?

-Ah, Isa, não sei, não sei mesmo, sei que estou confusa demais por não ter certeza das coisas.

- Já sei! Eu vou falar com ele.

-Você? Falar o que? – agora a garota se sentiu realmente perdida, tudo poderia ir por água abaixo

- Vou tentar intimidar ele para ver se ele solta alguma coisa, mas desse jeito não da para ficar, você fica aí evitando confrontar as coisas porque não quer mais problemas e eu entendo isso, mas tem coisas que você não pode simplesmente fechar os olhos e fingir que não vê, e se depender de mim as coisas não ficarão assim, mas não posso fazer nada sem que você deixe, pois afinal, não tenho nada haver com isso.

-Mas o que você pretende fazer?

-Ah, vou falar com ele, vou gritar se for preciso, aquela altura toda não me assusta, você deixa?

-Ai Deus, deixo Isa, vai lá!

Nisso a garota foi para sua sala e ela teve certeza que as coisas com Vitor não se sairiam tão bem, não fazia idéia do que estava por vir e não agüentava ficar ali naquela sala de aula se sentia inquieta, as pernas bambas, tinha que sair dali. Levantou-se, saiu sem pedir licença tamanho desespero que sentia. Ao descer as escadas o portão estava fechado, decidiu subir de volta, era troca de aula e encontrou Ângela no corredor, ficou mais desesperada ainda, como contaria para a amiga que até Isabelle sabia das coisas do final de semana que ela não havia lhe contado. Decidiu ficar longe, pois só iria estragar mais as coisas. Quando uma pessoa fica com medo e se depara com uma coisa aparentemente sem solução, parte da esperança que cada um tem dentro de si morre, o que as deixa mais frágeis a alguns tipos de acontecimento, o que faz com que tudo desmorone. E era exatamente isso que estava para acontecer. Resolveu que iria ficar lá embaixo, não queria ver ninguém que ficasse perguntando as coisas, queria se distrair, ou sofreria por antecipação. O portão que dava acesso ao pátio estava milagrosamente aberto e ela sentou no banco e ficou ali até que sua amiga Vanessa sentou ao lado dela:

- E aí Luciana?

-Tudo bom?

-Tudo e você?

-Bem também, esta cabulando a educação física?

-É. Não da para ficar correndo por aí e bagunçando todo o cabelo, não é mesmo?

-É. Sei bem como é isso.

- Não veio de ônibus hoje? Faz tempo que não fofocamos! Hahaha!

-Realmente Nessa, faz um tempinho, e sinto falta das nossas conversas!

-Eu sinto falta das suas novidades! Alguma coisa nova acontecendo, Lu?

Humm, deixa eu pensar, - se viu como uma telespectadora onde o filme era ela e Vitor se beijando no cinema escuro e decidiu que isso já era passado e que estava aberta ao futuro- já te falei do Jorge?

-Qual Jorge? O repetente?

- Esse mesmo. A gente ficou quando eu traí a Ângela, cheguei a te contar?

-Não, como foi isso?- perguntou Vanessa curiosíssima

-Ah, foi rápido, foi aqui perto, mas depois terminei com ela, não cheguei mais a ver o Jorge porque você sabe, né? Turista aqui na escola...

-É verdade, não é a toa que repetiu... Falando no diabo aparece o rabo, olha que está na cantina!

-Quem? – quando olhou se deparou com Jorge e pensou seriamente m como seria esse pós amasso um milhão de dias depois – Ah, olha ele aí, nossa ele está vindo para ca, muda o assunto! Aja naturalmente! Hahaha!

-Pode deixar...

-Nossa, não olha, mas ele está pertíssimo daqui ai esta olhando para mim com aquela cara risonha, Ai Vanessa, ele vai vim, Natural, natural!

-Hahaha! Calma!

- Oi meninas! –disse Jorge

-Oi! Essa é a Vanessa! - apresentou Luciana

-Oi, tudo bom Jorge?

-Nossa já sabe meu nome, será que alguém andou falando de mim para ela, Luciana? Hahaha!

- Não, não é porque você é repetente mesmo... – esnobou Luciana fazendo com que a amiga caísse na risada

-Quer bala? – ofereceu Jorge a Vanessa

-Não, não gosto muito...

-E você?

-Quero – disse Luciana sorrindo

A situação que se seguiu, chocou as duas meninas, Luciana queria distração mas não imaginou que seria tão fácil e que a sorte estaria a seu favor tão rapidamente. Jorge pegou a bala e a colocou entre os dentes deixando metade da bala entre os lábios e foi levar a bala para Luciana, que pegou a bala com os lábios e foi envolvida no beijo mentolado do garoto. Vanessa saiu do banco, rindo da situação e deixando os dois a sós, que ficaram juntos até a hora do intervalo. Quando os alunos desceram pro pátio, foram reparando em cada detalhe do que estava acontecendo: as mãos dadas, dedos entrelaçados, beijos, selinhos, caricias, coisas que queriam saber como o que eles dois estavam dizendo um ao outro ao pé do ouvido. Muitos ali estavam frustrados, pois a maioria das pessoas não gostava de Jorge, por um motivo até então indeterminado. Como estavam gerando muitos comentários decidiram subir para onde Luciana havia jogado verdade ou desafio com Ângela, Murilo e Vitor, lá estava vazio na maioria das vezes, inclusive essa. Ficaram lá, até que deu o sinal para o recomeço das aulas e a garota tinha que ir afinal, não havia assistido nem uma aula sequer naquela manhã, e mais da metade já haviam acabado. Ele a levou para a sala dela, foram de mãos dadas e cada pessoa que cruzava com eles no corredor os olhava com uma certa surpresa, por assim dizer. Não sabia-se se as pessoas ‘’aprovavam’’ ou não, tinham todas a mesma enigmática expressão facial. O casal até chegou a comentar sobre isso e decidiram de maneira rápida e simples: não importa. Não fazia diferença para eles, pois independente do que as pessoas estavam a comentar eles iam fazer o que desse na telha, então era totalmente indiferente. Luciana entrou na sala e estava feliz, não por Jorge, mas porque havia sido um ótimo jeito de se distrair dos problemas que a rodeavam, porem a sorte já estava lançada, Isabelle já havia falado com Vitor, Vitor já tinha tomado sua decisão, Murilo tentou falar com ela mas na sua tentava de fuga da vida real, a garota ruiva havia deixado o celular em sua bolsa na sala de aula. De acordo com as mensagens de Murilo, algo grande estava acontecendo, algo sem volta, e para descobrir era mais uma aula fora da sala, e Luciana saiu da sala sem que o professor a descobrisse. Foi até o fim do corredor andando lentamente como se tudo estivesse normal, conseguia até esboçar um sorriso para os que passavam, mas por dentro era uma casa construída na areia, a qualquer momento desmoronaria. Chegou na sala e esperou Murilo sair para conversarem:

- O que você fez?!? Quem você acha que é?

-Como? Murilo o que aconteceu?

-O que aconteceu? Você estragou tudo!

- Eu? Tem certeza? Ou foi ele? Ou foi você? Ai olha sinceramente Murilo não venha encher meus ouvidos de baboseira porque eu não quero mais ouvir!

-E por isso você foi abrir a boca para a Isabelle?!?

-Fui. Não sei por que, só senti na hora que devia falar, ela fez o que? Não falei com ela ainda...

-Ela veio e começou a gritar com ele! Perguntou se você não tinha pedido que ele parasse! E ele ficou roxo! Não abriu a boca! E aquela vagabunda falou na frente de todo mundo! Das pessoas da sala, dos nossos amigos, de qualquer babaca do corredor!

-Está certa! Ela foi a amiga que você não pode ser!

-Mas você ainda não satisfeita foi ficar agarrada com o Jorge para todo lado! Ele aqui comigo analisando se a Isabelle que estava inventando, eu falando para ele que ela tinha inveja de você! Ele acreditou em mim e você, ainda não contente, fez com que o melhor amigo dele, aquele lixo do Mauricio visse você com o Jorge e contasse para ele. Ele estava muito triste, aí chega o Mauricio e fala: ‘’Ah, você esta aí todo mal por causa dessa menina que veio não sei da onde e ela ta com outro lá no pátio, aos beijos!’’

-Fiquei mesmo, desse jeitinho, vocês acham que é só pela vingança ou pelo que os outros vão pensar de vocês, mas é um pouco mais do que isso, você é inteligente, Sab do que eu estou falando. Ou não sabe?

-Não! Não faço a menor idéia!

- Ah, você acha que eu não lembro um pouquinho sequer? Ah como você é bobo, aí eu junto esse pouquinho com algumas coisas que vocês próprios me contaram, ou coisas que me disseram como ‘’dignidade não existe’’ e me vem na mente certinho, ele tentando transar comigo desmaiada naquela droga de cinema! Então não venha me dizer o que eu posso ou não fazer, com quem eu posso ou não ficar de amasso, porque não é bem assim!

-Tá, ele tentou, mas não transou, vocês não transaram!

-Então é assim? E se ele tivesse transado comigo? Virgindade pra que? Você vai em puteiro, perdeu a sua em puteiro, como quando você me contou...Como foi que você disse? Ah sim, garotos tem que provar coisas totalmente desnecessárias, nossa como vocês são homens já!

-Nossa você é ridícula!

-E o que você faria no meu lugar?

-No seu lugar, nesse momento, eu sumiria por alguns dias, depois de tanta besteira esperaria as coisas esfriarem.

-Não sei por que estou te pedindo conselho, não vou sumir e se prepare, estarei mais presente do que nunca!



Gritou voltando para a sala de aula, quando entrou, todos ali, sem nenhuma exceção, a observaram, no completo silencio, desde sua aparição na porta até sentar-se em seu lugar, seus passos faziam eco e sua cabeça. Assim que estava sentada podia ouvir certos murmúrios, com certeza as pessoas ali sabiam parte de alguma das recentes historias. Imaginava o que as pessoas pensavam. Imaginava se mais algum poderia ter passado por coisa parecida, não sabia se estava se formando um ódio gigantesco, ou a maior gratidão por Isabelle. Luciana ficava pensando se faria a mesma coisa que Vitor, ou Murilo, ou se eles fariam a mesma coisa no lugar dela. A garota ruiva tentava descobrir quem foi a vitima. Concluiu que as pessoas têm um lado feliz que fazem com que os nossos olhos brilhem porem tem um lado ruim que nos faz ter vontade de morrer mil vezes a conhecê-lo. O que ela havia feito era a coisa certa, mas a coisa certa às vezes dói. E doía saber disso.



Desabafo da Carencia

Eu olho aqule corpo, com ausencia de seios e gluteos firmes e cheios. A repugnia vem na garganta como um refluxo de agonia. Mesmo assim eu continuo andando m direçao a ele, esboço um sorriso, mas ele percebe que eu realmente nao quero fazer isso. Olha para mim, escuta minha tristeza vibrando dos meus passos, mas mesmo assim meu corpo parece lhe enxer os olhos. Afinal, se eu estou indo pros braços dele de livre e espontanea vontade o que pode ter de errado? Apenas uma coisa. Sou refem do que os olhos nao vem. Sou o lixo a merce da carencia e solidao. Dias como hoje, ja existiram sempre existiram, corpos como esse, a que estou prestes a tocar nesse momento tem o sexo deformado ao meu ver. Pêlos asperos cobrem todo seu corpo e eu continuo indo para essa criatura a quem chamamos vulgarmente de homem. Ser do sexo masculino. Ser que tem mente prepotente, fechada e mal desesnvolvida, pensamentos preconceituosos. Tudo isso rodeia o meu coraçao, que pesa por excesso de bagagem, mas eu nao consigo evitar, afinal fecharei os olhos e tentarei ficar sem meus sentidos para nao sentir o gosto amargo de sua lingua nem toque ruge de seus braços. Mas momentos como esse m mostram como sou fraca. Vitima da minha total falta de controle. Caminho para a forca e finjo sorrir! Que tipo de ser eu sou? Nao conheço nenhum que o faça! Mas nao importa, o olho lacrimeja mas eu disfarço. Que diferença faz? Agora nao poderei me parar e nao importa quantas doses eu beba, quantos baseados eu fume, sempre resta uma misera lembrança pra me assombrar. Meu corpo fragil clama por fervor, por um toque quente, por uma mao amiga, por um olhar sincero, mas meus queridos, o mundo é tao medonho! Nem sempre eh assim, pelo menos comigo, afinal sempre depois que eu faço coisas assim me olho no espelho, no fundo de meus proprios olhos e me sinto asquerosa, me encaro com certo ar de desaprovaçao. Na minha cabeça nunca faz sentido. A minha pele precisa ser tocada! Acariciada! Amaciada como um bicho de gado! Tal qual for a frase o efeito eh o mesmo, preciso de algum que toque minha carne com desejo. Talvez seja a idade, talvez seja a estaçao do ano, talvez a hora do dia, nao importa o motivo, importa que mus poros imploram por atençao. Pareço estar carente por que quero, mas nao é. Olhe mu celular, invada minha vida, tenho varias pessoas a me pedir, a implorar do mesmo jeito qe minha carne implora, mas todos os corpos sao deformados. Eu exito a meses ter essa experiencia para nao sentir nojo de mim mesma na frente do espelho. Eu consigo? Eu esperarei uma criatura docemente feminina aparecer? Ou continuarei ignorando todos os avisos de minha consciencia, esta que ja nao aguenta mais sentir-se culpada por atos carnais que eu cometo. Nao aguento mais transar comigo mesma e apos momentos de prazer sentir vontade de morrer ao olhar para as paredes frias e molhadas de um lugar qualquer. Nenhum olhar. Nenhuma palavra. Apenas o gozo solitario de uma amante mais solitaria ainda.