domingo, 7 de setembro de 2014

Mares Noturnos

No meio da noite em qualquer lugar, mergulhada na doença que nunca muda, descendo fundo na água fria, mares noturnos são assim. E se eu não voltar mais? Uma vida baseada em aproveitar os últimos dias ou tentar ganhar mais alguns. Se eu olhasse no fundo do oceano enquanto ganho um último sopro de vida e lembrasse de algo que eu sentia, lembrasse da vontade de viver, talvez aproximasse a vida de mim, então me diga que está tudo bem, talvez eu fosse estúpida, talvez não. Mares noturnos nos remetem a isso, a choros sem lágrimas e dores que os hematomas não aparecem e tudo continua como sempre. Liberta da placenta, frágil e solta, pronta pra se despedir.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Aquela música

Existia aquela música, música aquela que sempre esteve em minha vida e agradava os meus ouvidos. Música hoje que me traz uma lembrança, que me deixa frustrada, que não me tira da cabeça a imagem. O ódio que exala dos meus olhos, que aperta o meu coração, que acaba com meus sentimentos. Aquela música, de linda letra e perfeita melodia se transformou um grito que eu sufoquei no meu peito, se tornou uma voz de desespero, se tornou ensurdecedora aos meus ouvidos. Mudar a estação de rádio, trocar a música, desligar o aparelho. Nunca mais conseguirei ouvir aquela música sem ter a terrível lembrança, a sensação de traição, o choro quente. Durante seus minutos eu fiquei ali, ouvindo, sentindo tudo que eu não podia ser, toda minha vontade de sumir, todo meu desejo de arrancar de dentro do meu peito aquilo que estavam matando pouco a pouco, a cada palavra cantada uma lágrima e a cada verso um grito que ecoava em meu coração, que estourava meus tímpanos de dentro pra fora, que me trazia grande mágoa. Nunca mais aquela música. Nunca.

terça-feira, 25 de março de 2014

Um Breve Final

As suas verdades foram arremessadas aos meus ouvidos, enquanto eu acreditava ser jovem e pensava ter todo o tempo do mundo para envelhecermos. Mas com sapatos tão pesados que carrego hoje me vejo mais do que madura para entender tudo que me foi dito, entender o jeito que meus ouvidos foram agredidos, entender como eu evitei escutar, tentando cantarolar qualquer música romântica e alegre dentro da minha cabeça e fingir que era a nossa música.
Mas nem música você nos deixou ter, muito menos fotos, nada que me deixasse lembrar de quem a gente era, da força que a gente tinha. Eu devia ter acreditado mais. Devia ter forçado a me amar. Te arrancado os cabelos gritando e chorando, implorando que me deixasse conduzir os nossos passos, suplicando para que fechasse os olhos com os lábios próximos aos meus e sentisse meu coração batendo forte e desesperado. Eu observo a tempos o meu modo de ser, o jeito de quem não luta mais, não tenho mais nada a dizer, o cansaço do fracasso e da humilhação ecoando no meu silêncio já tem sido o suficiente. Foi só aí que me permiti cair em lágrimas repetindo para mim mesma o quanto eu não fui perfeita, o quanto não fui magnífica, o quanto eu tive medo. Ser jovem acabou com os meus sonhos.
Me transformou num corpo febril, em olhos cansados, ombros pesarosos e sem nenhuma coragem de te segurar, apenas observando, sem reação, estática, a ida de quem já não volta mais.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Desaparecer

Não morra dentro de mim, não acredito que seja real, se eu te perder nunca voltarei pra casa, os  vultos da minha mente gritam dentro de mim, já fazem anos. Aquela perda, aquela perda nunca me deixará ir pra casa querido.
As sombras da noite caem e me trazem tudo do qual eu tenho fugido por vidas e vidas dentro de meus sonhos, no plano original onde tantos tributos já foram oferecidos em troca da minha paz, a paz que eu tanto sonhei para nós um dia.
Do silêncio que perturba e não me deixa sorrir, dos arredores que eu observo e não consigo extrair o que preciso do seu sorriso. Os suspiros tão profundos e repetitivos que saem de minha alma toda vez que essa força toma conta de mim, me domina como uma escrava dos seus extintos, o choro quente que me marca quando ponho tudo pra fora, implorando um pedido de liberdade, rezando por misericórdia, clamando por um sopro de vida.
Minha mente tão vazia, meu ser tão mal acabado e o pesar dos dias anoitecendo trazendo a lembrança de tudo que eu sinto, me sentindo fraca por não conseguir superar o que você faz comigo, o sentimento supremo de abandono e a saudade que toma meu coração pra si, fazendo eu desaparecer de dentro de mim mesma, fazendo eu desfalecer, enfim sumir...

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Sobre Nós

As palavras, elas saíram e caíram nos ouvidos como uma música um tanto que familiar. Ela olhou ao redor, observou o quarto a meia luz e vazio. Olhou do outro lado da cama e observou o travesseiro um instante. A saudade estava ali, bem no lugar onde ele se deitava.  Suspirou e ficou mergulhada em seus pensamentos, dos mais puros aos mais profanos, em todos eles ela conseguia enxergar aqueles olhos, que até então já representavam muito do que ela sentia. Vez ou outra conseguia ficar prestando atenção em como sua imagem ficava ali refletida, os milhares tons e cores que existiam num universo que estava presente somente naqueles olhos. O silêncio do quarto já não perturbava mais, faziam com que ela ficasse aconchegada em suas lembranças por horas a fio. O toque, os dedos entrelaçados, o beijo e as tantas carícias das quais ela tanto sentia falta se encontravam em apenas uma pessoa. Descobriu que já não era mais a mesma sozinha.
Logo se seguiram milhões de noites sem dormir, revirando de um lado para o outro a procura daquela alma, que completava a dela e que despertava a sua mente para o amanhã que chegaria em breve e a faria sorrir novamente. Acordar suando na madrugada infinita esperando o corpo pesar sobre o dela. Mil expectativas, o tempo todo ali transbordando em seus olhos atentos, uma visão bem clara do que queria e do que precisava. E se pedisse pra escolher entre o "jamais" e o "para sempre", o que escolheria? 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Narcose

Eu vivo com os olhos fechados. Aonde consigo encontrar o mundo que me foi apresentado nos tributos da vida real. Sempre me excitava a idéia de estar no topo da montanha com o suor pingando da testa, próxima de todos os elementos que me criaram. Com os olhos fechados a música ecoa do meu coração até meus ouvidos, de dentro pra fora me tornando alguém de verdade, me fazendo existir em cada fio de cabelo.
Mas hoje com lágrimas nos olhos eu caio na tentação de ser fraca, de deixar as lágrimas me dominarem toda vez que eu lembro da sua expressão naquela noite quente e feliz, com sua amante ao seu lado querendo te proteger das minhas garras. Não há o que fazer se simplesmente eu me deixo levar, sê simplesmente eu não tenho mais forças pra lutar contra essa vontade de fechar os olhos e viver no meu mundo particular para sempre. Sem você. Sem eu. Sem o céu das manhãs de outono, cinza e perfeito.
O meu suspiro sozinha nessa cama me lembra os seus olhos que me causam dor quando refletem aos meus, o nada que eles transparecem ao me ver.Minhas lembranças da infância todas misturadas no ataúde que eu inventei ao meu redor, meu estado agora que deplorável escrevendo isso por me ver impotente diante da Vida, por querer permanecer com os olhos fechados tremendo e vivendo tudo o que eu fantasiei pra mim. Sentindo toda a liberdade que alguns tributos me proporcionaram, envolta de criaturas que me protegem com sua ruindade e ainda assim me fazem angelical aos demais olhos. Um sonho perfeito e infinito de minha alma, me iludindo e me salvando apenas.