O gigante abismo que carrego dentro do meu peito e me faz
sentir culpada, não fui perfeita, a vontade de desaparecer ao enxergar o
próprio reflexo, coisas assim me giram em torno da minha cabeça quando me deito
todas as noites. A vida toda imaginei que o pior choro que pudesse existir
fosse o que a lágrima caísse quente e pudesse sentir centímetro por centímetro
do rosto queimar, derreter, reduzir-te a nada, mas sob uma lua como essa, um
dia tive a certeza de que a pior lágrima é a que cai fria, quando o gelo
consome tudo por dentro e as lembranças forem muitas e não houver espaço o
suficiente para o coração bater. Pude descobrir que a lágrima esfria de acordo
com o tempo que a guardamos. Eu tenho pra mim, que não me permiti chorar no
momento de chorar, que enganei a todos e a mim mesma, a dor não pode ser
assumida.
Quando se assume ter dor, se assume um julgamento e este por
sua vez não vem em palavras de consolo, ele vem nos olhos. Os olhos de quem não
entende, de quem não cede, de alguém cuja alma já partira porem o corpo ficara
ali, respirando e piscando, permanecendo uma casca seca e vazia por dentro. Os
olhos julgadores chegam a pesar para quem precisa ser amado e quase sempre
denotam aquela rispidez de quem se perpetua cheio de si.
Ao redor de mim nada tinha, nem ninguém, e me peguei
confortável por um breve momento. O suspiro surgiu, quando o ar todo saiu
entredentes, a consequência veio a existir, avassaladora, partindo o pouco que
eu cultivava dentro de mim. O choro pôde vir sem se conter juntamente com o ar
que me faltava durante todo esse tempo, pude ter a sensação de finalmente me
permitir sentir, finalmente chorar, finalmente.