sexta-feira, 24 de maio de 2013

O Choro dos Fracos


Eu suguei  toda a força que você tinha, e no fim me vi muito fraca. Você não tinha nada a me oferecer mais e eu não tinha mais nada que eu podia querer. Apenas o silencio já me torturava porque gritava com todas as suas forças de dentro de mim como eu conseguia ser desprezível. Como eu já estava no meu limite, saturada, como eu já tinha gasto toda  a força que eu tomei de você em coisas idiotas. Como a vida tem sido para mim não é mesmo? Parece que querer não faz mais nenhum sentido, querer não é o suficiente para mim nem pra você  Querer só joga na sua cara o que você não tem, o que você não é. Todo aquele vazio das minhas palavras de todos os dias hoje se mostrava presente como um monstro gigantesco que eu tenho que carregar, que eu tenho que ficar acorrentada. Cada segundo que passa e as lagrimas rolam eu me sinto mais fraca, mais isolada, a sombra na parede fria só me mostra a verdade. Só me mostra que eu tremo e choro por alguém que eu nem se quer conheço. O gosto amargo de andar repetindo dentro da minha mente que tudo ficará bem, o gosto de saber que não é verdade. A cada vez que alguém tenta me acalmar eu me sinto pior, eu vejo que realmente este pesadelo existe e é tão real quanto a escuridão que me rodeia. Como uma reza eu imploro, eu me mantenho imóvel apenas acreditando que o amanha será melhor, quando na verdade amanhece o mesmo sol de todas as manhãs, os mesmos dias lindos e cinzas, os mesmos olhos desolados no espelho ao se arrumar,ao forjar um sorriso para todos que me olham. A alma que já não tem mais forças para lutar permanece tentando, sem sucesso, sem vontade. O corpo pesado rasteja novamente para os braços de alguém, um alguém qualquer, um alguém sem nada, um alguém comum. Todas as risadas forçadas a sair como um desespero, como uma punição, como alguém que ri obrigado e sente nojo de si mesmo. Eu hoje, sou alguém que não vê mais sentido na maioria das coisas que eu gostava, mas que insiste em fazer as mesmas coisas para ver se algo renasce dentro de mim. Como um ultimo ato, eu caminho ate o espelho, tento ver alguém especial dentro dos meus próprios olhos, não consigo ver nada, apenas a mesma cor opaca de quem sofre sem ninguém para estender a mão  A musica toca bem alto e cada vez acalenta meu coração como uma divindade, mas não é o suficiente, acreditar nunca é o bastante. 

domingo, 19 de maio de 2013

Chinelo de Dedo

Eu tentei voltar, por no minimo tres vezes deis meia volta e nao dobrei a esquina. O mais estranho é lembrar que todas as vezes consecutivas que eu dei meia volta voce se manteve inerte, de pé no portao com seu chinelo de dedo. Só olhando. Sem dizer uma palavra. Será que ficou desapontado quando eu desisti afinal? Eis o tipo de resposta que nunca saberei. Eu dobrei a esquina e percebi que meus joelhos estavam tremulos. Eu dobrei aquela maldita esquina e tentei acreditar que sua alma ja tivesse sido minha algum dia. A distração que tentei arrumar nao conseguiu conter as lagrimas que o olho descrente chorava. Eu sequei o olho espantada por nao acreditar que o sentimento era de perda. Apesar do que eu costumava demonstrar tudo estava ali, sendo sentido e permanecendo em meu coração. O caminho para casa naquele dia foi longo e silencioso, eu apenas ficava em perfeita e absoluta dúvida tentando entender se existia a palavra culpa. Minha expressao era de desespero e eu continuava sem dizer uma unica palavra. A confusao em minha mente era tao profunda que eu desconhecia qualquer tipo de musica que tocava ao fundo. Tentei chorar, tentei me libertar da situação que me causava tanta agonia mas ela nao saía de mim. Grudava em meu corpo pós coito como uma lembrança de que meu corpo havia sido seu como uma especie de propriedade. Este mesmo corpo estava suado e ficava pegajoso em tudo que tocava. E isso só servia pra me fazer lembrar do seu corpo, lembrar do seu rosto, lembrar do seu jeito de fazer as coisas. O seu jeito de fingir que o mundo inteiro nao existia, sem a preocupaçao de nao me tocar uma vez mais no dia de amanha. Dessa vez o amanha nao chegou para nós de fato. Creio que todas as vezes que naquele dia que eu dei meia volta eu pensei em gritar. Todas as vezes eu quis te pegar pela gola da camisa, te cuspir na cara, te humilhar na porta da propria casa, te dizer que tudo estava estragando, te explicar que a ponta da corda estava indo embora e eu nao conseguia alcançar a tempo, mas todas as vezes que dei meia volta, me deparava com seu rosto que apesar de demonstrar calma tinha olhos medrosos e que ficava ali, plantado e sua bermuda apenas a olhar, talvez esperando que eu fizesse algo. Agora que estou lembrando fez sentido. Voce nao entrou em casa. Talvez tenha ficado ali absorvendo o que aconteceu, plantado na calçada dura e fria. Nunca saberei ao certo. Sei apenas que depois de tantas ameaças, por assim dizer, quando finalmente dobrei a esquina fiquei tomada por uma especie de força que me prendia ao pensamento de nao fazer a minima ideia de como as coisas seriam daqui pra frente. A dor tomava conta de mim, mas meus pés tomavam o controle e iam embora somente, ja estavam cansados de voltar e ficar de frente para os seus. E eu me mantinha segurando o choro quando seus olhos encontravam os meus naquela situação de ultima vez, que ja tinhamos tido tantas ultimas vezes mas essa era diferente. Quando o choro saiu desafogou as palavras que eu nao pude dizer, que eu nao fui forte o suficiente para assumir, para sofrer de frente para voce. Eu e meu grande ego, eu e minha dificuldade de assumir as coisas que eu sinto, assumir as coisas que eu nao consigo ser ou ter. Cada vez que eu dava meia volta eu pensava em como eu era fraca, como eu nao era digna. Na ultima vez que dei as costas me senti forte, me senti superior, ate que dobrei a esquina e o mundo inteiro estava sem cor nenhuma, olhei pro lado e estava sozinha, triste, completamente sufocada pelas verdades que eu nao conseguia dizer. Estava tudo acabado entao.